1922
O peso da culpa.
Em ‘1922’, adaptado da obra de Stephen King, somos transportados ao cenário rural de Nebraska no início do século XX. Wilfred James, interpretado por Thomas Jane, tece um plano sinistro com seu filho, Henry, para assassinar sua esposa, Arlette, na esperança de assegurar o controle das terras dela. O assassinato acontece, com o corpo de Arlette sendo escondido no poço da casa, dando início ao pesadelo.
‘1922’ não é apenas um filme sobre um assassinato; é uma exploração profunda do ônus psicológico imposto pela culpa. À medida que o filme avança, testemunhamos os personagens confrontando o peso insuportável de suas ações, cada um travando sua própria batalha.
O protagonista, Wilfred, afunda progressivamente na insanidade. Somos espectadores de suas visões arrepiantes da falecida esposa e de uma infestação infindável de ratos em sua fazenda. Elementos que simbolizam a culpa que o consome.
Seu filho, Henry, que compartilha a culpa pelo assassinato, é atormentado por seus próprios fantasmas. A culpa age como o divisor que rompe o relacionamento pai-filho, empurrando Henry para um abismo sombrio.
Conforme o filme se desdobra, somos confrontados com uma questão inquietante: podemos, de fato, escapar das garras de nossa própria culpa ou ela nos perseguirá eternamente?
Na nossa sociedade, a culpa é muitas vezes vista como um adversário, e as pessoas fazem de tudo para minimizá-la ou suprimi-la, recorrendo por vezes a drogas ou outros meios. O desejo é de se livrar desse sentimento de qualquer maneira. A Bíblia adverte que é possível pecar a tal ponto que a nossa consciência fique insensível como se tivesse sido cauterizada com um ferro quente, e deixarmos de sentir qualquer remorso.
Então surge a pergunta: mesmo que não nos sintamos mais culpados, ainda somos culpados diante de Deus? A Bíblia afirma que, de fato, somos.
Uma maneira concisa de definir a culpa da perspectiva de Deus é como uma responsabilidade legal ou culpabilidade à punição. Perceba que nesta definição, não se fala de sentimentos, sensações ou emoções. Embora possamos sentir essas emoções quando somos culpados, isso não significa que a culpa seja sinônimo desses sentimentos.
Nossa cultura muitas vezes trata a culpa como algo negativo e indesejável. No entanto, Deus nos projetou para identificar e sentir culpa para que possamos agir. Funciona de forma semelhante a dor física. Quando você está machucado, você sente a dor como um sinal de que algo está errado, o que o leva a parar, prestar atenção e resolver o problema. A culpa também serve como sinal de alerta.
Eliminar esse sinal ou ignorá-lo não faz com que o problema desapareça magicamente. A culpa não é nossa inimiga; é um mecanismo que nos leva a examinar nossas vidas e resolver o que está errado. No entanto, numa cultura que evita a responsabilização e muitas vezes adota uma mentalidade de vítima, as pessoas procuram eliminar a culpa o mais rapidamente possível terceirizando-a. Como diria o filósofo Homer Simpson: A culpa é minha e eu coloco em que eu quiser!
A abordagem secular, embora pareça eficaz, aborda a culpa de maneira superficial. Ela não resolve nossa culpa diante de Deus; em vez disso, anestesia nossa consciência, nos impedindo de reconhecer nossa responsabilidade. Isso nos conduz a um estado de cegueira espiritual, onde escondemos a culpa, ou tentamos nos tornar insensíveis a ela.
Entretanto, lidar com a culpa é fundamental, e a Bíblia nos mostra o caminho. No Salmo 32, Davi fala sobre as maravilhas de ter suas transgressões perdoadas e seus erros encobertos. Ele destaca a importância de admitir nossos erros perante Deus, usando a mesma palavra em hebraico para “esconder” e “cobrir”. Isso nos mostra uma imagem poderosa: quando optamos por ser sinceros e confessar nossos erros diante de Deus, Ele nos cobre com Sua misericórdia.
É importante lembrar que Deus pagou um preço muito alto pela nossa liberdade, conforme diz 2 Coríntios 9:15. Através de Cristo, somos justificados, o que significa que a culpa é anulada. Para aqueles que seguem a Cristo, os sentimentos de culpa podem ser como um sinal de que algo está errado, nos levando a confessar nossos erros e nos afastar deles. Não fomos feitos para carregar o fardo da culpa; Jesus já fez isso por nós (veja Colossenses 2:14 e 1 Pedro 2:24).
Graças a Cristo, podemos andar na luz e não precisamos mais carregar o peso dos nossos pecados.