Uma Voz ao Vento
Você já se perguntou como era ser cristão no primeiro século?
Não muito depois da ascensão de Jesus? O livro “Uma Voz ao Vento” da escritora Francine Rivers nos leva exatamente para esse momento da história.
Logo no primeiro capítulo, a história nos leva pra dentro de Jerusalém no momento de sua queda. Quando os judeus se revoltaram contra o Império Romano no ano 66 d.C., Nero enviou o futuro imperador Vespasiano (r. 69-79) para cuidar do assunto. Vespasiano estava lutando na Galileia quando Nero cometeu suicídio em 68 d.C. Seguiu-se uma época turbulenta, conhecida como o Ano dos Quatro Imperadores (69 d.C.), e quando Vespasiano saiu vitorioso, ele deixou seu filho Tito no comando do exército do cerco de Jerusalém.
O cerco à cidade começou em 14 de abril de 70 d.C., três dias antes do início da Páscoa daquele ano e durou cerca de cinco meses. Durante esse período, à medida que a escassez de alimentos se intensificava, as condições pioravam e o caos se espalhava completamente na cidade sitiada. Era o exército romano do lado de fora e a loucura da fome do lado de dentro da cidade.
Josefo afirma que 1,1 milhão de pessoas foram mortas durante o cerco, das quais a maioria era judia. Ele atribui isso à celebração da Páscoa. A revolta não dissuadiu os peregrinos das comunidades judaicas de viajar para Jerusalém para visitar o Templo na Páscoa, e um grande número ficou preso na cidade e pereceu durante o cerco.
Rebeldes armados, bem como os cidadãos frágeis, foram executados. Todos os cidadãos restantes de Jerusalém tornaram-se prisioneiros romanos. Milhares foram forçados a se tornar gladiadores e acabaram morrendo nas arenas. Muitos outros foram forçados a ajudar na construção do Fórum da Paz e do Coliseu. Aqueles com menos de 17 anos de idade foram vendidos como servos (como a nossa protagonista).
Tito e seus soldados celebraram a vitória ao retornar a Roma desfilando com a Menorá e a Mesa do Pão da Presença de Deus pelas ruas. Até o desfile, esses itens haviam sido vistos apenas pelo Sumo Sacerdote do Templo. Este evento foi homenageado no Arco de Tito.
É aqui dentro dos muros de Jerusalém que encontramos nossa protagonista – Hadassah, uma judia seguidora de Jesus. Hadassah é levada para Roma como escrava e comprada como serva de companhia para a filha mais nova de um rico mercador.
Mas ser cristão naquela época em Roma não era nada fácil. De acordo com Tácito e a tradição cristã, Nero deu inícios às perseguições aos cristãos no império romano. Nero culpou os cristãos pelo Grande Incêndio de Roma em 64, que destruiu partes da cidade e devastou economicamente a população romana.
Na visão de Tácito, os mártires de Nero foram condenados “não tanto pelo crime de incêndio criminoso, mas pelo ódio à raça humana”. Os cristãos formaram um grupo com costumes distintos, que criticavam severamente os costumes da sociedade romana. Além do mais, a sua lealdade à Cristo substituía todas as outras lealdades. Entre 150 e 200 muitas denúncias de cristãos foram feitas porque um membro de uma família havia se convertido, o que ameaçava a unidade da família. Mas uma acusação é constante – “ateísmo”; rejeição às divindades tutelares de suas comunidades. Este era um assunto muito sério para os romanos; acreditava-se que as divindades traziam boa fortuna a uma cidade, e desprezá-las poderia aumentar sua ira.
E aqui estava Hadassah, no coração do império romano, logo após as acusações de Nero. Acompanhamos então toda a sua jornada, o seu sofrimento e luta interna para obedecer a Deus, e na medida de suas capacidades, levar a Palavra de Deus para a família que a comprou como escrava e ao mesmo tempo que se esconder da perseguição.
Também acompanhamos como era a vida no Império Romano nesse período. E vislumbramos como o povo romano lidava com os jogos nas arenas, onde judeus e cristãos eram oferecidos aos leões famintos e escravos eram obrigados a lutar até a morte em espetáculos macabros frequentados e consumidos pelo povo como hoje assistimos uma Copa do Mundo.
Esse livro nos ajuda a entender e absorver melhor o que significava ser cristão no primeiro século em meio à perseguição. Certamente me ajuda a ser grata pela liberdade de culto que temos hoje. Me ajuda também a refletir como essa liberdade é frágil. Até quando poderemos expressar nossa fé abertamente por aqui? Quanto tempo nos resta até que o Cristianismo seja considerado intolerante e discriminador e se torne ilegal? Estamos preparados para viver nessas condições?
Você pode achar que esse livro é apenas um romance, no sentido de romântico mesmo. Mas ele é muito mais do que isso. É um livro sobre amor de fato, amor à Deus. De como uma pequena e humilde menina amou à Deus acima de tudo e a seu próximo como a si mesma. Mesmo quando o seu próximo a maltratava.
Foi interessante ver o contraste entre a vida de Hadassah e seus senhores. Mesmo sendo uma escrava, ela era livre em Cristo. Mas seus senhores, mesmo tendo riqueza e posição social, eram escravos dos seus desejos e vícios.
Portanto, se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres.
João 8.36
A história de Hadassah é muito bonita e inspiradora. Será que, como cristã, eu conseguiria fazer metade do que ela fez? Certamente ela representa o que muitos cristãos foram e fizeram naquele período. Será que eu conseguiria amar aqueles que me escravizaram e perseguiram como ela amou? Mesmo quando a maltratavam e oprimiam?
Que Deus nos dê forças e sabedoria para amar o nosso próximo como ele nos amou. Para perdoar quem nos ofende e machuca da forma como ele perdoou.
E para sermos cristãos de fato, mesmo quando a perseguição chegar.