Sweet Home
O monstro que habita em nós
Cha Hyun-Soo, é um estudante do ensino médio que perdeu sua família inteira em um terrível acidente de carro. Ele é forçado a deixar sua casa e se muda para um pequeno apartamento. Ao mesmo tempo, um fenômeno misterioso em que humanos se transformam em monstros começa a ocorrer em todo o mundo. Os residentes do edifício Casa Verde, então, lutam contra esses monstros e tentam sobreviver.
Cá estava eu órfã de Round 6, procurando outra boa série pra assistir e eis que a Netflix me indica a série Sweet Home. Em termos de enredo, as duas séries são bem diferentes, mas elas têm em comum duas coisas que eu acho muito importantes: (1) personagens bem construídos (daqueles que a gente se apega) e (2) um enredo forte baseado em temas que mexem com a gente.
É uma série estilo apocalipse zumbi, só que em vez de zumbis temos monstros, bem criativos por sinal. Foi baseada no webtoon de mesmo nome de Kim Carnby e Hwang Young-chan.
Faz tempo desde a última vez que eu vi um personagem cristão ser ilustrado de forma tão positiva. Jung Jae-heon é um cara bacana e educado, que no momento da crise demonstrou coragem, compaixão e auto sacrifício. Viveu com fé: “Foi a vontade do Senhor”.
Fora que eles escolheram uma música do Imagine Dragons (Warriors) que se encaixa tão bem com a história que eu fiquei com a música na cabeça por um tempão. Então, se você como eu, está procurando uma série interessante, criativa e com algumas reflexões interessantes, dê uma chance pra Sweet Home.
De repente, monstros horríveis começam a aparecer por toda a cidade. Cada monstro tem uma forma diferente e a gente fica sabendo que são os próprios humanos que se transformam em monstros depois de exibir alguns sintomas como sangramento excessivo no nariz e desmaios. Em meio ao caos lá fora, os residentes do edifício Casa Verde optam por ficar dentro do prédio, acreditando que estão mais seguros lá dentro.
Só que não é bem assim. Conforme a série avança, é revelado que o fenômeno não é uma doença infecciosa, mas uma maldição. A princípio todos são suscetíveis a tal maldição. Pode ser apenas uma questão de tempo e circunstâncias antes que nossos personagens se tornem monstros.
A série ainda não deu muitos detalhes sobre a maldição em si. De onde ela vem? Por que só agora? O que a série insinua é que as pessoas que abrigam desespero e desejos imorais (ou vícios) se tornam vítimas desse estranho fenômeno. E como dificilmente alguém não tem um vício ou desejo oculto, ninguém está a salvo. Mas, aparentemente, a maldição pode ser resistida. Se a pessoa não se entregar ao desespero ou ao seu desejo, parece que pode evitar a transformação.
Assim como o desespero e os desejos desenfreados transformam os personagens em monstros literais em Sweet Home, eles têm a mesma capacidade de nos transformar em “monstros” aqui no mundo real.
Em desespero, uma pessoa que está se afogando pode acabar matando o salva-vidas. Em desespero, uma multidão em fuga acaba atropelando uns aos outros. Em desespero, uma pessoa comete suicídio…
E o que dizer dos desejos e vícios? Egoísmo, ganância, luxúria, inveja, vaidade… Se deixarmos esses vícios e desejos nos dominarem podemos muito bem nos tornar monstros também.
Mais para o final da temporada, a série questiona quem são os verdadeiros monstros. Quando um grupo de bandidos invade o prédio, vemos o quão destrutivo o homem pode ser. Quem causou mais mortes no final das contas? Os monstros ou os próprios humanos?
Em meio a uma situação caótica e assustadora como essa, fica ainda mais complicado resistir ao desespero e aos desejos fazendo com que mais pessoas se transformem. Como já vimos em outros filmes apocalípticos, algumas pessoas começam a mostrar suas tendências egoístas enquanto lutam pela sobrevivência. Mas, para os poucos moradores que resistem em meio a catástrofe, um vínculo especial se desenvolve e acabam se tornando uma família.
A série levanta uma discussão interessante em torno do desespero, dos vícios e desejos ocultos. Mas também nos mostra que, mesmo em condições extremas, podemos crescer, amadurecer e demonstrar amor. No fim, entendo que foi a conexão entre os personagens e a construção dessa “família”, que se ajuda e socorre, que abraça e consola, que protege e cuida e que não desiste dos seus, que os manteve vivos e humanos por tanto tempo, mesmo quando infectados.
Me diz aí se isso não te lembra a família da fé? Todos “adotados” e muito diferentes, com seus pecados e virtudes, mas que estão unidos, em um só corpo, pelo amor de Cristo. Que a gente não precise passar por uma maldição apocalíptica pra dar valor a nossa família de sangue e da fé.