Duna
O ciclo vicioso da humanidade
O filme conta a história de um futuro distante onde a humanidade se espalhou pelos planetas, e uma família nobre ganhou a tarefa de governar o único planeta, Arrakis, que contém a substância mais valiosa, conhecida apenas como “especiaria”.
O duque Leto Atreides recebe o controle desse planeta pelo imperador. Esse conspira junto com uma casa rival, os Harkonnen, para que o duque Leto seja morto assim que ele chegar em Arrakis e, embora o duque suspeite que sua vida esteja em perigo, ele aceita a tarefa. Leto organiza seus conselheiros de confiança para se prepararem para o pior.
Enquanto isso, a concubina do duque, Lady Jessica, é um membro das Bene Gesserit. Ela desafiou a vontade da sua organização ao produzir um herdeiro para o duque. As Bene Gesserit têm tentado criar um líder especial que possa ver através do tempo e do espaço e acreditam que Lady Jessica estragou seus planos ao dar à luz um menino ao invés de uma menina. Mesmo assim, ela o tem treinado nas habilidades especiais das Bene Gesserit.
Ao chegar em Arrakis, o duque Leto é capturado pelos Harkonnen, porém Lady Jessica e seu filho, Paul, conseguem fugir. Agora eles precisam encontrar os Fremen no deserto para tentar sobreviver e quem sabe reverter o duro golpe que a casa Atreides sofreu.
O livro de Frank Herbert de 1965, Duna, é um marco na ficção científica. É para a ficção científica o que O Senhor dos Anéis é para a fantasia. Podemos ver sua influência em Star Wars, Game of Thrones e muitos outros. O romance tem muitas camadas, é complexo e enigmático, apresentando uma tarefa difícil de adaptação para um filme. E o diretor Denis Villeneuve foi a escolha perfeita. O mundo de Duna que ele nos apresenta é incrível.
O que ele nos dá, no entanto, é a primeira parte da história. Restou bastante história pra parte dois (e alguns desafios de adaptação também). O momento de divisão entre parte 1 e 2 é lógico e funciona bem principalmente se você estiver familiarizado com o livro, mas eu entendo que para alguém vendo Duna pela primeira vez, o filme pode parecer uma história sem final, sem um desfecho satisfatório. Foi assim que eu me senti quando assisti O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel pela primeira vez. Mas, quando consegui assistir os filmes em sequência foi épico.
Apesar da conclusão insatisfatória do filme, ele tem muito a oferecer. O visual do filme é de tirar o fôlego. Cada frame ou quadro tem um propósito e é cativante, desde a arquitetura das espaçonaves até o tamanho dos vermes da areia. O filme, como o livro, se move em um ritmo mais lento, permitindo aos espectadores absorver o espetáculo na tela. Agora eu entendo por que Villeneuve foi tão enfático sobre assistir no cinema. Gostaria de ter tido essa experiência. Com certeza vou tentar assistir a segunda parte na telona.
Minha personagem favorita é Lady Jessica. Que personagem interessante. Uma grande personagem feminina que foi criada em 1965. Talvez Hollywood apenas tenha esquecido como criar boas personagens. Rebecca Ferguson foi uma ótima escolha. E Timothée Chalamet como Paul também estava muito bem e se parece bastante com o personagem do livro.
Mas, por mais que este filme tenha sido bem-sucedido na adaptação do livro, eu ainda preferiria que fosse uma minissérie da HBO. Então, seríamos capazes de realmente explorar esse mundo rico que Frank Hebert criou e incluir as cenas que foram cortadas para a história caber no tempo de um filme.
Duna é uma experiência épica que oferece uma pausa bem-vinda nos filmes baseados em quadrinhos. Que venha a Parte 2!
A história de Paul está apenas começando e ainda tem muita coisa pra acontecer. Então, vou guardá-lo para o futuro. Ao invés dele, vamos falar sobre a sociedade de Duna como um todo.
A ausência de computadores no universo de Duna é um aspecto menos explícito no filme do que no livro. Nesse universo, algo como a Skynet ou Matrix já aconteceu. Mais de 10.000 anos antes da história contada no filme, a sociedade foi dilacerada por um conflito com a inteligência artificial, começando com o nascimento da máquina Omnius. Os governantes anteriores da humanidade, os Titãs, se tornaram os servos desse computador depois que Omnius conquistou vários planetas.
O conflito da humanidade com a inteligência artificial continuou por quase 1.000 anos até o advento da chamada Jihad Butleriana – ou Grande Conflito. Ao longo de duas gerações de guerra, as máquinas foram finalmente derrubadas e substituídas por um princípio central da humanidade: “o homem não pode ser substituído“.
Por causa disso, os computadores e a inteligência artificial (I.A.) foram proibidos. Isso explica, por exemplo, a existência dos mentats – humanos treinados para processar e pensar como computadores, substituindo a inteligência artificial (aqueles personagens com lábios tatuados).
Enquanto os humanos colocaram toda a culpa nos computadores, o livro e o filme nos mostram a verdadeira causa do problema da Humanidade – os próprios humanos. O desejo de poder, a ganância, as traições e o uso constante de violência demonstram que o problema não é externo e tecnológico, mas interno e inerente ao próprio ser humano. Por mais que tentem, os humanos não podem transcender ou reprimir sua natureza corrupta.
No filme, vemos que as grandes casas dominam planetas inteiros e ainda não estão satisfeitas com suas fortunas. Elas querem ainda mais dinheiro e mais poder. É um ciclo vicioso sem fim. Duna pode muito bem ser o nosso futuro daqui a 20 mil anos. É o que nós conseguimos realizar sem Deus.
Só há uma forma de salvar aquela sociedade e a nossa desse ciclo vicioso. Essa vai ser, de certa forma, o tema da parte dois dessa história. To be continued.