O quarto dos desejos
Cuidado com o que você deseja
O filme acompanha Matt e Kate, um jovem casal que compra uma casa isolada e descobre um quarto misterioso com o poder de tornar desejos materiais em realidade. Porém, desde que Kate teve que enfrentar dois abortos espontâneos, o que eles mais desejam é um filho. Um dia, ela decide pedir ao quarto que lhes conceda o filho que não puderam ter, mas as consequências deste desejo são surpreendentes.
Essa é uma versão interessante do “cuidado com o que deseja… porque você pode conseguir”.
O filme tem boas atuações (especialmente a protagonista) e tem um enredo interessante – mas no meio do caminho a gente percebe que a ideia não foi bem executada.
Por exemplo, quando Kate e Matt descobrem os poderes do quarto, eles não ficam ressabiados ou com medo, como qualquer pessoa normal ficaria, mas alegremente começam uma exuberante onda de desejos pelas coisas mais supérfluas (como pinturas, muito dinheiro, vestidos de baile etc.), o que dura cerca de 15 minutos de filme, e o tempo todo eles não se importam muito com o como e o porquê, muito menos com o preço que possivelmente teriam que pagar por tudo o que desejaram. Parece que nossos personagens nunca assistiram a filmes de terror hehe
E não para por aí. Sem mais nem menos, Kate entra no quarto e deseja um filho. Um sonho depois de algumas gestações interrompidas. Passou pouquíssimo tempo desde que descobriram o quarto dos desejos, e sem saber absolutamente nada sobre ele, você já está desejando um ser humano. Sério? Jura? É surreal.
Depois de um tempo e algumas reviravoltas, o “filho”, Shane, se volta contra o casal. Aqui está mais buraco no roteiro. A fuga prolongada do casal e com risco de vida durante o clímax do filme é desnecessária porque a qualquer momento, quando Kate ou Matt estavam no quarto, eles poderiam ter desejado que tudo desaparecesse (incluindo Shane), mas isso nunca é apresentado como uma opção viável. Enfim, a falta de planejamento…
O quarto dos desejos aparentemente não é mau por si só. Você pode desejar coisas boas ou coisas ruins. Mas conseguir tudo o que deseja sem nenhum esforço, nenhum trabalho pode trazer mais problemas do que felicidade. Depois de dias festa, o casal parecia vazio e deprimido. Me lembrou muito o livro de Eclesiastes – correr atrás do vento. Uma vida cheia de prazeres, mas sem propósito e sem significado, é vazia.
O menino segue a regra de todos os outros objetos desejados. Eles descobrem isso quando o dinheiro e a pintura de Van Gogh que Matt traz para fora de casa se transformam em cinzas, e quando Kate, sem saber, leva o bebê Shane para fora, e ele se transforma em um menino quando é trazido de volta para casa.
Existe uma questão filosófica e teológica importante aqui: Como é irresponsável “desejar” uma criança dessa forma. O filme retrata Shane como um antagonista assustador, mas o fato é que ao longo do filme, não importa sua idade, ele possui a idade mental de uma criança. Pior, ele luta para entender sua própria existência e o mundo ao seu redor, e está agindo puramente a partir de sua experiência muito limitada do mundo, tendo passado toda a sua existência preso em casa. No final, ele é uma pessoa confusa, com idade mental incompatível com a idade “biológica” e que não aprendeu quase nada sobre moralidade, certo e errado e regras sociais.
O casal viveu um daqueles momentos do tipo “brincar de Deus”. E deu tudo errado porque regras e fases importantes do desenvolvimento de Shane foram completamente ignoradas. Deus foi completamente excluído da equação. Uma adoção não seria o caminho mais correto? Muito mais seguro do que usar um quarto mágico e misterioso que não veio com um manual de instruções?
Concluindo, é uma história sobre a importância do uso da moderação e da sabedoria em nossas escolhas, especialmente quando as coisas vêm fáceis demais pra gente. Nem sempre a decisão mais fácil será a melhor. Em muitos casos, fazer a coisa certa exige muito esforço e sacrifício. Mas Deus não nos prometeu que a vida aqui seria fácil ou que o obedecer seria moleza. O que ele nos prometeu foi que, independentemente das situações, ele nunca nos abandonaria.
“Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”. (Mateus 28.19,20)