Homem de Ferro 1
Um novo coração
Quando classificamos os filmes do MCU, o Homem de Ferro, para mim, está lá no topo com os melhores. Tem ótimos efeitos especiais (mesmo 14 anos depois), gadgets futuristas incríveis e o traje é a Ferrari do mundo dos trajes de heróis. O filme também tem uma trilha sonora pulsante que aumenta muito a tensão e a diversão das sequências de ação.
O roteiro é bem equilibrado com humor e drama, a trama do sequestro que ocupa a primeira parte do filme é bastante séria, considerando que este é um filme de ação pipoca.
O enredo permite uma conexão emocional com o Homem de Ferro. E a atuação de Robert Downey Jr se encaixa como uma luva, equilibrando bem os diálogos inteligentes e o lado emocional do personagem. Gwyneth Paltrow é uma boa e leal ajudante, mas Jeff Bridges não é um personagem tão bom, infelizmente. Pra mim, o único aspecto negativo foi o final meio apressado que não foi tão emocionante quanto poderia ter sido.
Stark está no topo do mundo. Mais rico do que Jeff Bezos e mais inteligente do que todos os alunos do MIT combinados. Ele pode comprar o que quiser — casas, carros, jatos. E o que ele não pode comprar, ele pode produzir. Ele é um playboy famoso com uma fila de mulheres à sua disposição. Stark não se incomoda com o fato de sua empresa, a Stark Industries, ter criado algumas das armas de guerra mais notáveis do mundo. Na verdade, ele vai ao Oriente Médio para demonstrar a munição não-nuclear mais poderosa até agora – o Míssil Jericho.
Nesse momento, Stark é ferido e capturado e sua vida é salva por um refém afegão, Yinsen. E em uma das metáforas mais eficazes do filme, Stark está à beira da morte, vítima de estilhaços das próprias armas das Indústrias Stark. Yinsen diz a Stark que as vítimas dos estilhaços são chamadas de “mortos-vivos” porque os estilhaços migram pelo corpo e os matam tardiamente uma semana depois. Quando Stark questiona por que ele deveria fazer algo para prolongar sua vida se ele tem apenas uma semana de vida, o médico responde: “Bem, é a semana mais importante da sua vida. Não desperdice.”
Yinsen valoriza profundamente sua família. Ele pergunta a Stark se ele tem esposa e filhos e fica triste ao saber que não. “Então, você é um homem que tem tudo e não tem nada”, diz Yinsen a Stark. Quem está esperando por ele em casa? Quem realmente iria chorar por ele? Qual foi o seu legado?
Esse é o momento de renascimento de Tony Stark, e isso o obriga a criar um novo coração para si mesmo. Para nós cristãos, esta metáfora de novo coração nos lembra Ezequiel 36.26:
“Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne.”
É o que acontece com Stark e a partir daí ele está determinado a corrigir os aspectos predatórios de sua vida. Ele mostra pouca preocupação com sua riqueza, com sua reputação como industrial ou com o valor das ações de sua empresa.
Ele está realmente mudado e vê o mundo através de uma nova lente que abrange não apenas questões financeiras e políticas, mas também morais. Ele de fato adquiriu um novo coração e um novo espírito, e sua vida imita o padrão de criação (menino gênio), queda (industrial decadente) e redenção (inventor arrependido) que é ilustrado com tanta frequência na Bíblia como na parábola do Filho Pródigo.
Mais importante, ele tem um desejo repentino de ajudar as mesmas pessoas que suas armas estão machucando, então ele investe rios de seu próprio dinheiro e tempo em um novo traje de super-herói que o ajudará a fazer exatamente isso. Embora Pepper proteste, ele diz a ela que, em seu coração, ele sabe que o que está fazendo é certo.
“Eu não deveria estar vivo”, diz Stark. “A menos que seja por uma razão.”
O caminho de Stark para se tornar o Homem de Ferro é, em muitos aspectos, o mais espiritual possível sem recitar versículos da Bíblia. Ele é um arquetípico pecador que desperdiçou grande parte de sua vida em vinho, mulheres e armas.
Embora ele não encontre Deus, especificamente, ele encontra o que considera um propósito, quando passa pelo equivalente da Marvel à experiência do apóstolo Paulo na estrada de Damasco. Ele não está mais cego para o que está acontecendo ao seu redor. Já não vive sem rumo. Ele tem uma razão para viver. Um chamado.
Então, as mensagens subjacentes do filme – que ser virtuoso é melhor do que ser rico, que todos nós temos chamados inesperados de serviço ao próximo, que nós, como Stark, vivemos por uma razão – são inspiradoras, bíblicas e, no cenário atual de fama e fortuna a qualquer custo, francamente contraculturais.