Super-heróis modernos e…
…a perda de modelos positivos
Os heróis de nossas histórias geralmente servem como representações simbólicas da moral, ética, valores e crenças de nossa sociedade. Então, deveríamos desenvolver personagens com os quais as crianças possam se identificar e busquem imitar. Precisamos de narrativas que examinem a moralidade, a responsabilidade individual, o auto sacrifício, o dever e a honra, e que façam boa distinção entre o bem e o mal.
E acredito que foi isso que vimos na TV e nos cinemas por um longo tempo, mas recentemente a qualidade desses modelos caiu bastante, os heróis não são mais tão heroicos e os anti-heróis estão recebendo toda a atenção. Vamos pensar nos filmes do Thor, por exemplo.
O primeiro filme de Thor é uma história clássica de amadurecimento e redenção. No início, Thor – que está prestes a suceder seu pai Odin como rei – o desobedece arrogantemente, incitando um conflito com os gigantes do gelo em Vodenheim, acabando com a longa paz entre os dois reinos. Odin pune seu filho, privando-o de suas habilidades e jogando-o na terra. Thor então aprende sobre humildade e é forçado a superar sua imaturidade e arrogância para restabelecer seu valor.
Esse tipo de história é boa para jovens porque serve como uma poderosa metáfora sobre amadurecer e aprender que nada na vida vem de graça; você tem que merecer e não pode permitir que suas emoções te dominem. Você não pode esperar ter um impacto positivo no mundo até aprender a controlar seus demônios e medos internos. Essas são mensagens positivas e atemporais para transmitir aos jovens, mas, infelizmente, o personagem de Thor foi desconstruído em suas últimas aparições no MCU.
Thor Ragnarok era mais uma comédia, com muito sarcasmo e piadas, e nenhuma mensagem séria de verdade. Em Thor: Love & Thunder ele não apenas é emasculado por seu antigo interesse amoroso, mas também infantilizado, tendo que descobrir quem ele é DE NOVO, apesar de ter feito exatamente isso em cada um de seus filmes. Ele agora é apenas uma sombra de seu antigo eu, reduzido a ser o alvo das piadas.
Essa nova leva de filmes são incapazes de abordar assuntos sérios ou preocupações vitais, já que agora tudo gira em torno de comentários irônicos, brincadeiras e piadas. A ação e aventura passou para a paródia e, além disso, não apresentam mais imagens positivas de masculinidade (ou feminilidade) para o público jovem.
Mudando de personagem, a história da origem do Homem-Aranha (2002) serve como uma lição crucial para os jovens sobre a responsabilidade que acompanha o poder. Peter Parker deve aceitar o fato de que suas ações como Homem-Aranha têm efeitos reais sobre ele e as pessoas ao seu redor.
Esse é o tipo de desenvolvimento de personagem que atrai as pessoas em uma história de super-herói. O que chama nossa atenção são as histórias de redenção individual. Antes de enfrentar o inimigo com um senso de propósito e crença renovados, queremos testemunhar o protagonista superar seus próprios obstáculos. Vê-lo aprender sobre auto sacrifício e verdadeiro heroísmo. Se tornar uma pessoa melhor tendo percebido a sua própria escuridão e falhas, assumindo a responsabilidade por seus erros e se esforçando para se tornar uma versão melhor de si mesmo. Esse tipo de história é atemporal e não é específico de gênero. Funciona tanto para personagens masculinos quanto femininos.
Assim, muitas das produções modernas de Hollywood não oferecem mais aos jovens grandes modelos com os quais se inspirar. É importante que um povo tenha mitos e arquétipos culturais que expressem quem são, quem querem ser e o que valorizam, pois a cultura é essencialmente a história que contamos a nós mesmos sobre nós mesmos.
A questão que permanece é quão intencional tem sido essa mudança em Hollywood?
Adaptado do vídeo Modern Superheroes and the loss of positive role models do canal The Dave Cullen Show