Ex Machina
O que nos faz humanos?
Caleb é um programador que recebe a chance de sua vida. Ele é convidado a passar uma semana em uma instalação de pesquisa isolada para testar uma invenção que mudará o mundo. O inventor é Nathan, um gênio da programação que fundou a empresa onde Caleb trabalha. A invenção é Ava: uma máquina que se parece com um ser humano real. A tarefa de Caleb é fazer parte de um Touring Test para determinar o grau em que Ava pode expressar uma consciência humana.
O que começa como um teste normal – Caleb perguntando a Ava quantos anos ela tem e coisas assim – rapidamente se transforma em algo mais íntimo, com Ava perguntando a Caleb se seu status é “solteiro”. Ela cobre seus membros robóticos com um vestido, coloca uma peruca e informa a Caleb: “É isso que eu usaria em nosso encontro.”
Em paralelo temos Nathan observando o desenvolvimento do relacionamento de Ava e Caleb, por meio de câmeras de vídeo. Mas Ava descobre como cortar a energia dentro da instalação por alguns segundos de cada vez e usa esse tempo para dizer a Caleb que Nathan não é confiável.
A partir desse momento, nós, o público, não sabemos dizer quem é o vilão ou a vítima. Até que Nathan revela uma informação crucial. Caleb não é o testador; é ele quem está sendo testado. O verdadeiro desafio era ver se Ava poderia manipular Caleb para libertá-la. Nathan acredita que se ela pode fazer coisas como enganar e manipular, ela passaria no teste de consciência.
Ava meio que passa e falha em seu teste ao mesmo tempo. Ela é bem-sucedida em manipular as emoções de Caleb, mas ao mesmo tempo carece de qualquer tipo de empatia – como o final do filme mostra claramente.
Por ela parecer tão humana, Caleb trata Ava mais ou menos como uma pessoa real. Nathan, o criador, a trata apenas como outra versão de software avançado. Isso parece uma narrativa de ficção científica exagerada, mas as IA estão sendo desenvolvidas enquanto falamos e, embora não tenham ido além de uma página da Internet como o chatGPT, já vi pessoas dizerem que ficam desconfortáveis interagindo com a IA como um aplicativo, preferindo tratá-las como uma pessoa. Imagine quando os cientistas colocarem uma IA em um corpo de aparência humana.
Dada a conclusão do enredo, a gente pode certamente concluir que Nathan, o criador, acabou alcançando seu desejado “status divino”. O gênio controlador e manipulador criou sua Eva (Ava) à sua própria imagem, tão manipuladora e insensível quanto ele. Mas seu status de Deus não durou muito.
De certa forma, o filme oferece uma advertência sobre o rápido avanço da tecnologia, fazendo perguntas filosóficas sobre se a humanidade será capaz de criar seres inteligentes e autoconscientes – e o que isso pode significar para nós e para “eles”.
O que é que nos torna humanos? Nossa anatomia? Nossas emoções? Nossa moral? Se todas essas coisas pudessem ser reproduzidas, o que sobraria para distinguir o artificial da carne e osso?
Existem várias visões do que significa ser humano. O gnosticismo clássico, por exemplo, considera que a humanidade é principalmente uma entidade espiritual pura, acorrentada em um corpo corrupto. Outras visões, como o naturalismo, veem a humanidade como uma máquina física complexa, sem nenhum espírito – quaisquer sentimentos, pensamentos ou inspirações que experimentamos são apenas o subproduto de reações químicas dentro de nossos cérebros. Nenhum desses extremos tem qualquer apoio bíblico.
Todos os seres humanos são feitos à imagem de Deus. Temos um corpo físico e um componente espiritual: uma alma – a parte que todo conteúdo de ficção científica materialista tende a descartar. Talvez a característica humana que mais reflete a imagem de Deus seja nossa capacidade de amar. E essa era precisamente a habilidade que faltava em Ava.
Não sabemos se a inteligência artificial está em um caminho inevitável para a autonomia. O que sabemos é que, se a verdadeira IA for criada, ainda assim faltaria o componente mais importante do que significa ser humano – uma alma. Portanto, a IA não será humana de fato, mas ainda poderá refletir seus “criadores” para o bem ou para o mal, como tantos filmes de ficção científica já retrataram.