Doutor Estranho
Do ego ao sacrifício.
Stephen Strange leva uma vida bem-sucedida como neurocirurgião, mas sua vida muda completamente quando sofre um acidente de carro e fica com as mãos debilitadas. Sem mais esperanças na medicina tradicional, ele parte em busca de cura e esperança em um misterioso lugar chamado Kamar-Taj, localizado em Katmandu. Lá descobre que o local não é apenas um centro medicinal, mas também a linha de frente contra forças místicas que desejam destruir nossa realidade. Ele treina e adquire poderes mágicos, mas precisa decidir se vai voltar para sua vida anterior ou defender o mundo.
Benedict Cumberbatch é o Dr. Estranho perfeito, e os efeitos visuais são absolutamente impressionantes. Este pode não ser o meu filme favorito da Marvel, mas gosto muito do Doutor Estranho e seus poderes criativos e surreais. Bem diferente de tudo que vimos até aqui.
Vamos começar com um comentário de Adam Frank, o astrofísico que atuou como consultor do filme:
“Qual é a relação entre [a] mente – não apenas nosso pensamento, mas nossa experiência subjetiva do mundo – e a matéria? Muitas pessoas na ciência chegarão a uma perspectiva reducionista – que você não é nada mais do que seus neurônios, e seus neurônios nada mais são do que quarks, de modo que os objetos fundamentais e suas regras determinam tudo o que acontece em estruturas maiores.
Mas uma perspectiva não reducionista diz que não, na verdade há algo mais acontecendo lá – essa experiência mental não pode ser reduzida apenas a engrenagens em sua cabeça; há alguma maneira pela qual algo fundamental está acontecendo sobre o universo no nível da experiência que deve ser incluído na contagem de átomos. Foi assim que falamos sobre isso; esse é o caminho para “Doutor Estranho”.
Sim há “algo mais”.
Os filmes da Marvel sempre tiveram respeito pela ciência e o que eles fizeram com “Doutor Estranho” foi pegar um personagem muito brilhante que construiu toda a sua vida sobre seu conhecimento científico e o colocou em uma situação que o obriga a explorar o lado espiritual do mundo que ele negou por tanto tempo.
A princípio, o Dr. Estranho era um símbolo ambulante do que a civilização ocidental se tornou agora que rejeitou o cristianismo. Ele incorporou muito bem o credo “o ser humano não importa, não existe Deus” de cientistas humanistas. Até que ele percebeu que estava MUITO errado.
Dito isto, sabemos que as respostas que o filme dá ao nosso protagonista não são as corretas. Sim, o mundo não se limita à matéria, mas o mundo espiritual real e como interagimos com ele é bem diferente do que o filme mostra. Afinal, esse É um filme de fantasia mesmo que “pegue emprestado” algumas ideias do mundo real.
Mas o verdadeiro tema do filme é outro:
“A arrogância e o medo ainda o impedem de aprender a lição mais simples e significativa de todas. Não é sobre você.”
O filme é quase uma fábula do egocentrismo sendo transformado em altruísmo. É um retrato poderoso (sem querer, talvez) dos princípios bíblicos sobre orgulho e auto sacrifício.
Stephen Strange é um neurocirurgião talentoso que parece ter tudo: um apartamento de cobertura, um carro esportivo chique, pacientes implorando para serem tratados por ele e muitos prêmios. Seu mundo é ancorado pela destreza e controle de suas mãos e sua renomada habilidade em cirurgia. E ele se torna tão egocêntrico quanto uma pessoa pode ser. Individualista, egoísta e um pouco cruel. Sempre humilhando e magoando aqueles ao seu redor.
Mas em um acidente de carro a caminho de um de seus prêmios, suas mãos ficam feridas além do reparo. Só que toda a sua vida e significado giravam em torno de suas habilidades de cirurgião. Vendo sua existência despedaçada e sem esperança, ele despeja o resto de sua fortuna para encontrar uma cura para suas mãos.
Forçadamente humilhado por este acidente e a súbita percepção de quão pouco ele sabe sobre o mundo em que vive, ele agora está pronto para aprender e absorver uma das maiores lições da vida (e do cristianismo): não é sobre você.
Viver egoisticamente, em busca de nossa própria felicidade é a receita para o desastre, solidão e tristeza. É somente quando voltamos nossos olhos para aqueles ao nosso redor, quando focamos mais nas pessoas além de nós mesmos, que encontramos propósito e contentamento reais. Amar o próximo é a lição que continuamos esquecendo e deixando de lado.
Que mundo teríamos, que sofrimentos evitaríamos se a gente aplicasse um décimo dessa lição…