Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
Você é feliz?
O filme se passa após os eventos de “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” e encontramos Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) vindo em auxílio de uma adolescente chamada América Chaves (Xochitl Gomez), que tem o poder de transitar entre universos. No entanto, uma força maligna está tentando roubar o poder da menina, poder esse que ela ainda não consegue controlar e só é ativado quando está com medo.
Fazendo jus ao seu nome, o filme é um espetáculo visual e os efeitos especiais são surreais e criativos, incluindo uma cena em que Strange se encontra em um duelo místico onde notas musicais são arremessadas como estrelas ninja.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é um dos poucos filmes da Marvel que tem uma personalidade própria. Ainda carrega o fardo de vincular meia dúzia de outros filmes ou séries do Disney+, mas tem uma identidade clara. Na verdade, apenas as conexões necessárias com o MCU (e o fato de ser um produto da Disney) o impedem que ele seja um filme de terror completo.
Os momentos mais fracos para mim foram a participação dos Illuminati e o momento “acredite em si mesmo” no final do filme. Strange deveria ter dito algo mais… prático e menos clichê. Senti falta do Visão também, ninguém sequer mencionou o sujeito.
Não sei se eu concordo com o Strange usando o Dark Hold no final uma vez que o filme gasta um tempo enorme estabelecendo o quão horrível e corruptível era a influência desse livro. É como se Luke Skywalker se voltasse para o lado negro no final de O Retorno de Jedi “só dessa vez” para derrotar o Imperador. Wanda o chama de hipócrita e (pelo menos uma vez) ela tem um bom argumento. Vamos ver se Strange vai enfrentar alguma consequência negativa dessa decisão no futuro.
Histórias com multiverso são complicadas porque podem acabar removendo a maioria das apostas ou conexões emocionais do filme. Isso fica mais evidente com a introdução dos Illuminati, um supergrupo repleto de personagens familiares e participações especiais de atores/atrizes famosos. Ficamos empolgados ao ver esses personagens apenas para perceber que são apenas “bucha de canhão”. São personagens subutilizados e irrelevantes para o enredo que estão ali só pra morrer mesmo. Se era pra ser assim, então eu preferia ter gastado mais tempo com os personagens mais importantes da trama, como a America Chaves, por exemplo.
Além disso, com múltiplos universos, ninguém está realmente morto, certo? Você só precisa puxar uma versão diferente de um universo diferente e continuar a partir daí.
“Você é feliz?” Essa pergunta simples, mas instigante, permeia a história. No filme, os sonhos são janelas para nossas vidas alternativas no multiverso. Aqui o multiverso se torna uma metáfora potente para imaginar outras vidas possíveis com um passado menos doloroso e um futuro mais alegre e promissor.
Doutor Estranho começa o filme lutando com as decisões difíceis que ele tomou na batalha contra Thanos, e em seus relacionamentos. Do outro lado, Wanda é movida e consumida pela dor e pelo desejo de resgatar o que foi perdido. Ambos sofrem da síndrome “saudades do que não vivi”.
PS.: Os super-heróis realmente deveriam criar um sistema de apoio psicológico para super pessoas. Wanda estava precisando desesperadamente de algo assim e foi constantemente ignorada até se tornar uma ameaça para os universos (sim no plural) e o único desfecho possível ser a sua morte. Tudo bem que ela estava sob a influência do Dark Hold, mas ainda assim, alguma assistência emocional e psicológica era necessária.
Fixar no “e se” e em uma vida hipotética apenas traz mais dor e sofrimento para nós e para os outros ao nosso redor. A felicidade vem de sermos agradecidos com o que temos ao invés de focar no que não podemos ter. O filme resume bem isso no final, onde Wong admite se perguntar se outras versões de si mesmo no multiverso são mais felizes do que ele, mas que ele aprendeu a se contentar com a vida que lhe foi dada com suas tribulações e tudo o mais.
Como a Wanda, todos nós vamos passar pela dor da perda. Alguém que amamos vai morrer. E todos nós podemos encontrar, em nosso excelente Consolador, nosso caminho para superar o luto. Deus está sempre conosco: Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem. (Salmos 23.4)
Às vezes, nos concentramos tanto no que desejamos fazer, no que queremos mudar e nas pessoas que não estão mais conosco, que perdemos o foco no que ainda podemos viver, porque a vida é a maior das todas as aventuras, e Deus deseja que aproveitemos e aprendamos com ela a cada passo do caminho.
Quem sabe, se Wanda se concentrasse em seu futuro e não em seu passado, ela poderia ter alcançado a vida familiar com a qual ela sempre sonhou. Ou quem sabe ela não encontraria diferentes razões, significados e propósitos pelos quais viver e se alegrar.
Deixe o seu passado nas mãos de Deus, segure em Sua mão e olhe para frente, para o seu futuro.