Proibido romance?
A Hollywood moderna busca empoderar as mulheres, mas nem sempre reconhece a importância da feminilidade e sexualidade nesse processo. Os relacionamentos, por exemplo, são retratados como obstáculos para as personagens femininas. O site Screen Rant elogiou a Capitã Marvel por não ter um interesse amoroso, destacando isso como uma vantagem em relação a Mulher Maravilha.
Vamos olhar para Star Wars. Na trilogia original, tivemos o romance lúdico entre a princesa e o contrabandista, e nos filmes anteriores, Padmé era retratada como uma mulher forte e capaz, além de ser amante e futura mãe. No entanto, na trilogia recente, não vemos relacionamentos íntimos, relegando a personagem principal Rey à abstinência voluntária e possíveis interesses românticos à “friendzone“.
Romance sempre esteve presente em filmes de ação/aventura. Por exemplo, o Batman de Michael Keaton tinha Vicki Vale e a sedutora Michelle Pfeiffer como Mulher-Gato. No subgênero de super-heróis, temos cenas românticas icônicas, como o voo de Superman com Lois Lane em Superman de Richard Donner, ou o momento em que Mary Jane Watson beija o Homem-Aranha de cabeça para baixo na versão de Sam Raimi. Aliás, esse filme começa com a frase: “Essa história, como qualquer história que vale a pena ser contada, é sobre uma garota.”
Nos últimos anos, os filmes de ação/aventura têm deixado de lado a sedução e o romance. Os interesses amorosos são mostrados de forma superficial ou foram completamente eliminados. Uma possível explicação é que em narrativas complexas, como em Vingadores, não há espaço para o romance. No entanto, muitos filmes modernos não têm essa complexidade. Então, quais seriam as outras razões para essa mudança?
Uma possível explicação é a mudança na representação das personagens femininas. De uns tempos para cá, elas passaram a apresentar uma ou mais dessas características: Elas não dependem mais de mentores e são imbatíveis em lutas ou em discussões principalmente contra homens. Elas não passam mais por uma jornada de herói, superando uma fraqueza inicial pois elas já começam fortes e competentes. Também evitam demonstrar emoções intensas que possam comprometer sua posição social ou profissional e serem taxadas de “emotivas”.
A preocupação central aqui é construir “personagens femininas fortes”. E muitos escritores atuais acreditam que envolver uma protagonista feminina em um relacionamento amoroso, seja com um interesse romântico, namorado ou marido, pode comprometer sua independência e singularidade. Além disso, na visão desses escritores, isso pode implicar no que eles entendem como limitações dos papéis tradicionais de gênero, como a criação de filhos ou atividades domésticas. Para eles, esses relacionamentos acabam retratando as personagens femininas como mais fracas.
Embora eu não veja nenhum problema em um escritor optar por excluir aspectos sexuais ou românticos da história de uma protagonista feminina, é importante notar que muitos escritores modernos acabam removendo também toda a vulnerabilidade emocional e ternura dessas personagens, em sua busca por torná-las “fortes e independentes”. Isso resulta em uma falta de conexões emocionais profundas, seja amizade, maternidade, irmandade ou romance.
Ou pior, eles trazem todos os vícios da masculinidade para suas personagens femininas como características positivas de empoderamento, tornando-as focadas no domínio físico e emocional, virilidade sexual e promiscuidade, falta de emoção e superficialidade. She-Hulk vem à mente aqui.
Lembra de quantas vezes os heróis masculinos enfrentaram o fracasso ou lutaram com seus próprios demônios, sendo apoiados e orientados por personagens femininas com quem tinham um vínculo íntimo? Essa dinâmica não diminuía em nada tanto o herói masculino quanto o feminino.
Da mesma forma, lembra dos filmes mais antigos com heroínas, em que elas mostravam vulnerabilidade, medo, raiva ou desilusão, e um personagem masculino surgia para oferecer amor, apoio e compreensão? Era algo completamente normal.
Essas cenas funcionavam porque refletiam a realidade. Elas reconheciam as diferenças entre homens e mulheres enquanto elevavam ambos os gêneros. Que saudade do cinema de tempos atrás…
Referência: Youtube – Echo Chamberlain