A popularidade dos Doramas
Já ouviu falar de doramas? Dorama tornou-se um termo comum no Brasil para qualquer drama asiático. Mesmo que cada um tenha o seu próprio nome – J-Drama pra dramas japoneses, K-drama pra coreanos, C-drama pra chineses e assim por diante, não tem jeito, o termo Dorama já se enraizou.
Porque os doramas se tornaram tão populares nos últimos anos? Uma razão pode ter sido o próprio advento do streaming e da Netflix que produz e distribui conteúdos de diversos países facilitando o acesso a conteúdos que seriam consumidos apenas localmente em seus países de origem. Isso pode ter gerado no público uma curiosidade sobre culturas diferentes.
Mais uma razão é a própria mediocridade dos conteúdos ocidentais com baixa criatividade e com seu loop infinito de remakes, sequels, prequels e adaptações em live-action.
Outra razão é a influência da fama de celebridades coreanas como BTS, Blackpink e Song Joong-Ki, principalmente na geração Z.
Mas, pelo menos para o público feminino com o foco em comédias românticas ou puramente romance, eu vejo mais uma razão.
Angela Killoren, CEO da CJ ENM America se referiu ao K-drama como “entretenimento com olhar feminino” dizendo: “Acho que é o maior exemplo de fornecer algo para o mercado que não existe… Eu tenho conversado com frequência com fãs de dramas coreanos e [eles] falam a mesma coisa: ‘Eu amo [Hallyu*] porque reacende uma sensação de romance. É algo que parece diferente de todos os outros entretenimentos que tenho.’”
O dorama veio preencher um nicho que Hollywood não sabe mais fazer. No momento que eu escrevo esse texto temos em cartaz uma comédia romântica de Hollywood estrelada por Jennifer Lawrence chamada “Que horas eu te pego?”. Em inglês o filme ganhou o título: No hard feelings, um trocadilho de duplo sentido de conotação sexual. Na promoção do filme, uma das razões pra assistir era o prometido nu frontal da atriz.
Resumindo muito o enredo, a personagem concorda em ter um caso (sexual) com um rapaz mais novo em troca de um carro – não muito longe das motivações da “profissão mais antiga do mundo”. O filme tem uma lição positiva quanto à essa decisão? Tem, mas percebe o nível de vulgaridade, de exposição a conteúdo sexual? Percebe como todas as etapas de um relacionamento são queimadas ou subvertidas?
O que Hollywood considera romance ou comédia romântica atualmente difere muito do que entendíamos por esses temas no passado. Na verdade, a lúxuria é o novo romance. Ficaram no passado as sutilezas de uma troca de olhares, o primeiro toque das mãos, o crescimento gradual do relacionamento, as conversas.
Não, agora é conhecer a pessoa em uma cena e na mesma cena já ir pra cama com ela no melhor estilo Backstreet Boys (I don’t care who you are, where you are from, don’t care what you did, as long as you “love” me..). Mas pode piorar, o “romance” hoje pode ser também mais na linha Só pra Contrariar (“Estou fazendo amor com outra pessoa, mas meu coração vai ser sempre seu…“). Nunca vou me esquecer do filme romântico “Dança Comigo?” com Richard Gere que me induziu a torcer pelo adultério…
Fora os romances hoje em dia que são praticamente soft p9rn. Parece que agora todo conteúdo produzido para adultos tem que ter cenas classificação 18 anos e aqui nem ficamos restritos ao gênero romance, não é dona HBO?
Em geral, os doramas trouxeram de volta o romance original, sem vulgaridades e nudez, sem misturar amor com lúxuria e outros vícios. E onde personagens femininos e masculinos apresentam comportamentos mais tradicionais de seus respectivos gêneros. Que tratam o relacionamento como um todo, de forma mais gradual, além das 4 paredes do quarto. Algo mais puro, tão tranquilo de assistir que você não precisa vigiar se seu filho ou seu pai vão passar na sala justamente naquele comento… complicado.
Concluindo, nunca tivemos tanta liberdade sexual, e cá estamos nós torcendo o nariz pra ela e buscando os conteúdos que mais se aproximam da visão divina de amor e relacionamentos.
*“Hallyu” refere-se à popularidade das exportações de entretenimento da Coreia do Sul.