Rebel Moon
A decepção.
Quando um assentamento pacífico em uma lua distante enfrenta a ameaça dos exércitos de uma força tirânica, Kora, uma estranha que vive entre os aldeões, surge como sua melhor esperança de sobrevivência. Com a tarefa de recrutar combatentes treinados para se juntarem a ela numa luta impossível contra o Imperium, Kora forma um pequeno grupo de guerreiros – forasteiros, insurgentes, camponeses e órfãos de guerra de diferentes mundos que partilham uma necessidade comum de redenção e vingança.
Snyder tentou recriar a essência de Sete Samurais ou 7 Homens e um Destino no universo Star Wars e falhou. Eu torcia muito pra que este filme fosse bom, mas minhas esperanças começaram a desmoronar na marca de 4 minutos. Demorou esse breve período para avaliar a qualidade do diálogo e do roteiro do filme.
Nesse curto espaço de tempo, Kora começa um monólogo de auto psicanálise explicando ao público: “Essas duas temporadas me trouxeram uma felicidade que eu não mereço. Eu sou filha da guerra. Amar e ser amada de verdade… Não sei se consigo nenhum dos dois. A noção de amor e de família foi arrancada de mim. Aprendi que o amor é uma fraqueza. E eu… Eu não sei se tem como mudar isso.”
Este é um exemplo perfeito de violação do princípio “show, don’t tell” (mostre, não conte) na criação de histórias.
Nos filmes, “show, don’t tell” significa usar recursos visuais, ações e expressões para transmitir informações ou emoções, em vez de depender de diálogos ou narrações explícitas. Trata-se de deixar o público vivenciar e interpretar a história através do que vê e sente, em vez de ter tudo explicado diretamente.
Por exemplo, em vez de um personagem dizer “Estou triste”, o filme pode mostrar o personagem de ombros caídos, evitando contato visual e suspirando. Dessa forma, o público sente a tristeza sem que ela seja explicitamente declarada.
Então, em vez de Kora despejar toda essa autoanálise num monólogo, deveriam ter nos mostrado como ela se sente ao longo da história. Pleno 2023 e esse povo de Hollywood com mega salários ainda comete esse tipo de erro amador.
Além disso, o desenvolvimento de personagem, aspecto vital de qualquer história, não existe neste filme, incluindo a protagonista. Foi tão estranho ver os heróis reunidos NÃO interagirem uns com os outros. Chegamos ao final do filme e passamos tão pouco tempo com eles que o roteiro tem que violar o “show, don’t tell” novamente para nos lembrar quem são essas pessoas quando o vilão para na frente de cada uma delas e recita seu currículo. Na batalha final do filme eu notei que não me importava com a morte de nenhuma delas, incluindo a protagonista. Olha, se cortassem metade da câmera lenta usada neste filme, sobraria tempo suficiente para desenvolver os personagens.
Sofia Boutella não demonstrou o carisma nem a capacidade de atuação necessários para protagonizar um filme como este, infelizmente. E, em relação ao estilo visual do filme, teve tanto reflexo de lente que agora todo mundo sabe como é ter astigmatismo.
Decepção define.
Quando o filme é tão falho, é difícil encontrar algum tema para comentar. Então, vou me concentrar em uma única cena no início do filme com um personagem secundário (que depois foi completamente esquecido). No vilarejo, os soldados decidiram abusar de uma das moças, mas um dos soldados, creio que se chamava Aris, decidiu enfrentá-los. Ele não tinha chance de vencer tantos oponentes, mas não importava, ele escolheu agir, e enfrentar as consequências. Essa é uma das, senão a cena mais heroica do filme. Fazer o que é certo na maioria das vezes será a escolha mais difícil, mas imagine se mais pessoas reunissem coragem para fazê-lo. Não estaríamos vivendo em um mundo melhor?