A Epidemia da Solidão
Vivendo em Tempos de Conexão Desconectada
Em uma era hiperconectada, paradoxalmente, nunca estivemos tão solitários. Um simples vídeo no Instagram, mostrando uma cena de um abraço afetuoso do filme Undine, desencadeou uma enxurrada de comentários angustiados, revelando um vazio emocional profundo que assola nossa sociedade moderna.
Os comentários que acompanhavam o vídeo revelavam um retrato dolorosamente familiar da realidade de muitos: solidão, a ausência de relacionamentos significativos e o anseio por contato humano verdadeiro.
Pegando um recorte da população, a Geração Z (1997-2012), temos os seguintes números[1]:
1) Alguns relatórios mostram que 73% dos membros da Geração Z se sentem solitários às vezes ou sempre; 2) A taxa de suicídio também é muito elevada entre as pessoas com idades compreendidas entre os 10 e os 24 anos e aumentou para 56% entre 2007 e 2017; 3) 43% das pessoas entre os 17 e os 25 anos sentem-se sozinhas e menos de metade delas sentem-se amadas, de acordo com um inquérito da Action for Children entre aqueles que utilizaram os seus serviços.
É irônico como, em uma era em que podemos nos comunicar com qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo com um simples toque na tela do celular, muitos de nós nos sentimos cada vez mais isolados e sozinhos. As redes sociais podem nos oferecer a ilusão de companhia constante, mas quantos de nós realmente experimentam a profundidade e a autenticidade das interações humanas.
Dentre outras questões, falta algo essencial nas interações virtuais – o toque. Pesquisas mostram que a falta de toque humano pode levar a sentimentos de solidão, depressão, diminuição da satisfação com a vida, fadiga, problemas para dormir, estresse e ansiedade[2].
A solidão não escolhe idade, gênero ou status social. Ela se infiltra sorrateiramente em nossas vidas, muitas vezes disfarçada sob a máscara da ocupação constante e da atividade frenética. Mas quando chega a noite, quando as luzes das telas se apagam e somos confrontados com nossos pensamentos mais íntimos, é aí que sentimos sua presença avassaladora.
Estamos perdendo a arte de simplesmente estar junto, de compartilhar momentos sem a distração das notificações incessantes e da pressão para apresentar uma versão idealizada de nossas vidas. A cultura do “like” e do “compartilhamento” muitas vezes nos deixa sedentos por algo mais substancial, algo que só pode ser encontrado no calor de um abraço, no brilho dos olhos de alguém que realmente nos vê.
Então, como enfrentamos essa epidemia da solidão? Uma analogia com o formato da cruz pode nos ajudar aqui.
Primeiro, observamos o madeiro vertical, que representa o relacionamento mais vital em nossas vidas. Para o cristão, não importa a causa da solidão, a cura sempre passa pela comunhão reconfortante com Cristo. Este relacionamento com nosso Mestre trouxe conforto e coragem a milhares de pessoas que sofreram nas prisões e até mesmo deram suas vidas por Ele. Ele é o amigo “mais chegado do que um irmão” (Provérbios 18:24), que dá a vida por seus amigos (João 15:13-15), e que prometeu nunca nos deixar ou abandonar, mas estar conosco até o fim dos tempos (Mateus 28:20). Com Cristo, nunca estaremos sozinhos.
Agora, seguimos para o travessão horizontal da cruz, que simboliza nossos relacionamentos com os irmãos. Enquanto a cena daquele abraço do filme “Undine” ecoa em nossas mentes, lembremo-nos da beleza e do poder transformador do toque humano. Que também possamos buscar momentos de intimidade e afeto uns com os outros, tecendo uma teia de conexão que nos sustente e nos fortaleça. Aprendemos a amar com Cristo e é por meio d’Ele que podemos passar adiante pequenas doses de amor e compaixão diárias. É assim que vamos encontrar a cura para a epidemia da solidão que assola nossos tempos.
[1] https://www.rootsofloneliness.com/loneliness-statistics#loneliness-worldwide
[2] https://psychcentral.com/health/ways-to-self-soothe-when-starved-for-touch