Mama
Amizades Tóxicas.
A história começa quando duas irmãs, Victoria e Lilly, desaparecem misteriosamente na floresta após a morte trágica de seus pais. Cinco anos depois, as meninas são encontradas vivendo em uma cabana isolada, em condições selvagens e sem contato com o mundo exterior. Elas são resgatadas e levadas para morar com seu tio Lucas e sua namorada Annabel, que tentam reintegrá-las à sociedade.
Mas, logo fica claro que as meninas não estavam sozinhas na floresta. Elas falam sobre uma entidade misteriosa e protetora que chamam de “Mama”, uma figura sobrenatural que parece ter cuidado delas durante os anos de isolamento. À medida que estranhos eventos começam a ocorrer na casa, Annabel percebe que “Mama” pode ter seguido as meninas para seu novo lar e não está disposta a deixá-las ir.
Um diálogo entre Annabel e sua amiga da banda de rock me chamou minha atenção:
Amiga: Não pode contar a ninguém onde estão?
Annabel: Não.
Amiga: Isso é bizarro, cara.
Annabel: É pelas meninas, para manter a imprensa longe. É muito problema.
Amiga: Todas as famílias têm problemas.
Annabel: é, mas aqui foi instantâneo. Nem precisei estragar as duas, elas já vieram assim.
Amiga: Largue ele.
Annabel: Não posso.
Amiga: Isso não estava no pacote! (You didn’t sign up for this)
Annabel: Não posso fazer isso com ele.
Amiga: Sra. Sensível, você está numa banda de rock.
Annabel: Eu estava em uma banda de rock.
Chamo essa personagem de “amiga”, mas, na verdade, ela é uma típica amiga da onça. Precisamos ter cuidado com quem chamamos de amigos. Quem são as pessoas próximas de nós, aquelas a quem abrimos o coração, compartilhamos dificuldades e ouvimos seus conselhos?
O conselho dado pela amiga aqui foi a separação do casal porque surgiu uma dificuldade que imporia restrições na vida de Annabel. Ou seja, a sugestão é: “Mantenha o relacionamento enquanto ele for conveniente. Na primeira dificuldade ou inconveniência, pule fora.”
Embora eu não vá me aprofundar no fato de Lucas e Annabel não serem casados, uma vez que já discutimos o assunto no post “Casados? Nem tanto”, vale mencionar que a falta de casamento formal facilita esse tipo de sugestão. Quando as coisas ficam difíceis, a resposta parece ser simples: “Pule fora.” Porém, casados ou não, eles têm um compromisso conjugal um com o outro.
A sugestão da amiga é uma distorção que o conceito de “morar junto” trouxe para os relacionamentos: eles são vistos como algo efêmero e condicional, em vez de um compromisso permanente — o que é claramente expresso nos votos matrimoniais tradicionais:
“Eu, [nome], recebo você, [nome], como meu/minha legítimo(a) esposo(a), para ter e manter, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-o(a) e respeitando-o(a), todos os dias da nossa vida.”
Hoje, o “voto” parece ser mais assim: “Eu, [nome], recebo você, [nome], como meu/minha ficante, para ter e manter, enquanto houver alegria e saúde, amando-o(a) e respeitando-o(a) na medida que me for conveniente.”
Voltando ao tema central deste post — a amizade — é essencial que sejamos cautelosos ao escolher quem ocupará o lugar de amigo íntimo em nossas vidas. Devemos buscar amizades entre pessoas sábias, que servem e amam a Deus, e que obedecem à Sua Palavra. Amigos que nos aproximam de Deus, e não que nos afastam.
Um exemplo bíblico desse cuidado (ou falta dele) é a história de Roboão.
Roboão, filho de Salomão e neto de Davi, tornou-se rei de Israel após a morte de seu pai. No início de seu reinado, as tribos do norte, lideradas por Jeroboão, pediram que ele aliviasse os pesados tributos e a servidão impostos por Salomão. Roboão consultou dois grupos: os anciãos, que aconselharam alívio e gentileza, e seus amigos de infância, que sugeriram aumentar ainda mais o fardo. Ignorando o conselho dos anciãos, Roboão seguiu o conselho de seus amigos insensatos e respondeu com dureza, o que provocou a revolta das tribos do norte. Como resultado, o reino se dividiu: as dez tribos formaram o Reino do Norte (Israel) sob Jeroboão, enquanto Roboão manteve o Reino do Sul (Judá).
A Bíblia tem muito a dizer sobre más amizades:
“Não se deixem enganar: ‘As más companhias corrompem os bons costumes.’” (1 Coríntios 15:33)
“Aquele que anda com os sábios será cada vez mais sábio, mas o companheiro dos tolos acabará mal.” (Provérbios 13:20)
“O justo é cauteloso na amizade, mas o caminho dos ímpios os leva a perder-se.” (Provérbios 12:26)
No final das contas, Annabel fez o certo* ao manter seu relacionamento, apesar das dificuldades e sacrifícios. Ao longo do filme, a vemos desenvolver afeto pelas meninas e se tornar mais maternal. Annabel pode ter perdido sua posição na banda de rock, mas ganhou uma família — e não há nada mais satisfatório e recompensador nesta vida do que o amor.
*(Certo, no sentido de não seguir o conselho da amiga da onça. Obviamente, ela deveria acertar seu relacionamento diante de Deus, casando-se formalmente. Deixo essa nota aqui antes que alguém nos acuse de heresia nos comentários, hehe.)