Adolescência
Quando gênero se torna arma.
A minissérie “Adolescência” da Netflix gira em torno de Jamie Miller, um garoto de 13 anos que é acusado de esfaquear uma colega de classe, Katie Leonard. A história começa com a polícia invadindo a casa da família Miller em busca de Jamie, que se diz inocente. À medida que a investigação avança, surgem dúvidas sobre a culpa de Jamie e o que poderia ter levado ao crime.
A narrativa é contada por múltiplos pontos de vista: da família de Jamie, dos policiais e de outras pessoas envolvidas. E o diferencial? A série é filmada em plano sequência, ou seja, cada episódio é gravado em uma única tomada contínua. Nada de cortes ou interrupções de câmera. Isso deixa a experiência ainda mais intensa e imersiva.
A série levanta questões importantes como bullying, a desconexão entre gerações e a importância da comunicação dentro da família. Temas que, convenhamos, já foram discutidos em posts e vídeos nas redes sociais. Mas calma, aqui vamos focar em outro ponto: a relação entre Jamie e Katie. Ela praticava bullying e o humilhava publicamente. Em resposta, ele recorreu à violência fatal. Como as coisas chegaram a esse ponto?
Embora sejam apenas dois adolescentes, eles representam algo muito maior: um conflito enraizado na cultura ocidental — a famosa guerra entre os sexos.
Antes de irmos a fundo nisso, vamos fazer um exercício. Peguei algumas frases que vivem pipocando nas redes sociais sobre o que mulheres reclamam dos homens e o que os homens reclamam das mulheres. Leia as duas listas e reflita: quem está certo?

E aí? Certos? Errados? Melhor nem opinar por que advogado tá caro?
De qual lado você ficou? Pensou bem? E então, qual é a resposta certa?
Antes de responder, calma. Vamos por partes (como diria Jack). A guerra entre os sexos começou com… Adão e Eva. Pois é. E se arrasta até hoje, sem previsão de fim. Mentira, termina com o apocalipse e Deus criando novos céus e nova Terra. Mas isso não significa que, enquanto esperamos o Fim da História, não possamos fazer nada.
Com o advento do pecado, Adão e Eva logo começaram a se desentender sobre seus papéis e valores no plano perfeito de Deus. Por quê? Porque o pecado do orgulho gera egoísmo. E, ao invés de amar e fazer ao outro o bem que gostaria de receber, TODOS — homens e mulheres — passaram a priorizar o próprio umbigo. Alguns chamam isso de narcisismo, mas eu, carinhosamente, chamo de umbiguismo. E essa é a receita de fracasso de qualquer relacionamento.
Agora, voltando à treta mais recente que o umbiguismo nos trouxe:
Logo de cara, a série trouxe palavras como Incel, Manosfera e Red Pill. Opa, que trem é esse? Mais violência contra as mulheres? A manosfera, pra quem não conhece, é um termo que se refere a comunidades, fóruns, blogs, canais de YouTube e outros espaços online onde homens discutem masculinidade e relacionamentos. É uma mistura de “man” (homem) e “esfera”. Mas atenção: a manosfera não é homogênea. Ela vai desde grupos que promovem melhoria pessoal até outros bem mais controversos, que criticam mulheres e o feminismo.
Alguns subgrupos da manosfera são:
Red Pill: Inspirado no conceito do filme Matrix, o termo significa “acordar” para uma verdade sobre as dinâmicas de gênero e relacionamentos. O discurso inclui críticas ao feminismo e estratégias baseadas em hierarquias tradicionais de gênero.
Men’s Rights Activists (MRA): Ativistas pelos direitos dos homens que se concentram em questões que consideram negligenciadas, como o suicídio masculino, desigualdades em disputas de guarda de filhos, saúde masculina e taxas de encarceramento.
Incel (Involuntary Celibates): Homens que se identificam como celibatários involuntários e expressam frustração por não conseguirem se relacionar romanticamente ou sexualmente.
Se você leu com atenção, percebeu que o feminismo aparece como contraponto nesses debates. Sim, essa manosfera é, de certa forma, uma reação ao feminismo. E a relação entre ambos é marcada por tensões e antagonismos. Muitos na manosfera acreditam que o feminismo desvalorizou os homens ou criou desigualdades em áreas como relacionamentos e leis de família.
E aí vem a questão: o feminismo foi longe demais? Ou os homens estão exagerando no drama?
Não ajuda quando vemos posts de uma psicóloga nas redes sociais dizendo que “não existe masculinidade tóxica porque a masculinidade é tóxica por si só”. Assim, fica difícil não dar razão a alguns desses grupos, não é?

Muitos membros da manosfera argumentam que o feminismo da terceira e quarta ondas — voltado para questões como interseccionalidade e desconstrução de gênero — é “radical” ou “destrutivo”. Dizem que ele teria ultrapassado sua função original de buscar igualdade. Se você olhar para algumas vertentes atuais do feminismo, vai encontrar, por exemplo, o pós-moderno, que questiona categorias fixas de gênero binárias (homem/mulher), sexo e identidade. A ideia central? Essas são construções sociais e culturais.
O objetivo é desconstruir narrativas universais sobre gênero e explorar a multiplicidade das experiências humanas, enfatizando que gênero é performativo — ou seja, é uma ação contínua e não algo fixo.
Complicado…
Outra questão levantada por muitas vertentes do feminismo é a tal da masculinidade tóxica. E não é como se essa ideia tivesse surgido do nada. Nada ganha tanto destaque se não tocar em algum ponto sensível. Fato é que há, sim, muitos relatos de comportamentos masculinos reprováveis e até violentos, que acabaram alimentando essa ideia.
Por outro lado, precisamos ser justos: a biologia tem seu papel. Por causa da testosterona, os homens geralmente são maiores, mais fortes e mais rápidos que as mulheres. Também tendem a ser mais físicos, mais competitivos e a assumir mais riscos. Então, são tóxicos mesmo, né?
Bem, na verdade, essas características dadas por Deus são boas quando usadas para honrar e servir aos outros.
A mídia, porém, faz questão de ressaltar que a maioria dos atiradores em massa são homens. Mas, curiosamente, ignora o poder controlado e a agressividade usados pelos homens heroicos que detiveram esses mesmos atiradores. As características masculinas não são tóxicos por natureza; elas são boas quando direcionados a fins virtuosos. Em um mundo decadente, a aplicação legal de força coercitiva às vezes é necessária para defender os inocentes.
E isso nos leva a uma dicotomia: o Bom Homem x o Homem Padrão.

O problema com o estereótipo do Homem Padrão é que ele pode facilmente degenerar em sexismo, dominação, senso de direito e desprezo por aqueles percebidos como fracos — traços que todos concordamos serem tóxicos.
Mas de onde veio essa ideia de dois “roteiros” concorrentes?1
Ao longo da história ocidental, a sociedade se tornou mais secular, e o mesmo aconteceu com seu conceito de masculinidade. Como resultado, os homens sentem cada vez mais pressão para viver de acordo com o roteiro secular do Homem Padrão. Hoje, tornou-se socialmente aceitável expressar hostilidade aberta contra os homens. Até mesmo alguns homens começaram a difamar seu próprio gênero.
Um pesquisador chamado Jim Macnamara conduziu uma extensa análise de mais de 2.000 representações de homens na mídia, incluindo notícias, artigos, talk shows e outros formatos. Ele descobriu que mais de 75% das representações de homens os mostravam como “vilões, agressores, pervertidos e mulherengos”.2
Agora, imagine: homens passam a vida inteira ouvindo que, não importa o que façam, são inerentemente errados e tóxicos. Bom, eles vão começar a agir conforme o roteiro, não é mesmo?
Então, voltando à pergunta do início: quem está certo? Homens ou mulheres?
A resposta mais precisa talvez seja a da nossa ex-presidente: Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder.
Tá todo mundo errado! Haha
Sabe por quê?
“Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus.” (Romanos 3:23)
E também porque:
“O Senhor olha dos céus para os filhos dos homens, para ver se há alguém que tenha entendimento, alguém que busque a Deus. Todos se desviaram, igualmente se corromperam; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer.” (Salmo 14:2-3)
As duas listas de reclamações — tanto dos homens quanto das mulheres — estão completamente manchadas pelo pecado.
E sim, se formos analisar as queixas de ambos os lados, vamos encontrar pontos legítimos. Tanto o feminismo quanto a manosfera surgiram como reações a problemas reais entre homens e mulheres — seres caídos e corrompidos pelo pecado.
Mas nem um movimento nem o outro vão resolver ou amenizar o problema. E sabe por quê?
Em toda essa discussão sobre os sexos, em que momento Deus ou seu plano foram mencionados? Pois é, nenhuma vez. Sem Deus na equação, qualquer movimento ou ideologia está fadado ao fracasso. O pêndulo sempre vai longe demais, e a guerra entre os sexos continua.
Não devemos cometer o erro de igualar masculinidade ao mau comportamento. Uma cosmovisão bíblica nos diz que os homens foram originalmente criados para viver pelo ideal do Bom Homem, exercendo características como honra, coragem, fidelidade e autocontrole. Uma sociedade saudável é aquela que incentiva uma visão da masculinidade centrada em Deus.
E o mesmo vale para as mulheres.
Tudo o que Deus criou era originalmente bom, e essa bondade pode ser restaurada. Padrões culturais pecaminosos podem ser desfeitos. O conflito entre os sexos não é o estado original da humanidade, mas algo que pode ser combatido — assim como qualquer outro aspecto de um mundo decaído.
A Bíblia, surpreendentemente, retrata a consumação final da história como um casamento — um casamento entre Deus e seu povo, que são coletivamente chamados de sua noiva. Em outras palavras, o ponto final da história é uma união com Deus tão profunda e amorosa que a melhor metáfora para isso é o casamento.
Agora, entenda: destruir o conceito de casamento e manter a guerra entre os sexos é altamente estratégico para “o lado de lá”. O quanto de Deus e do nosso relacionamento com Ele deixamos de entender por conta dessa desconstrução?
E agora?
Uma implicação importante de Gênesis é clara: os dois sexos precisam um do outro para cumprir sua missão. O mandato cultural não é dividido por sexo. Deus não disse à mulher: “seja frutífera e multiplique-se”, e ao homem: “sujeite a terra”. O mandato cultural foi dado como um chamado conjunto, destinado a ambos os membros do primeiro casal.
E não é só isso. A grande maioria dos mandamentos nas Escrituras é dirigida a todos os cristãos, sem distinção de gênero. Os frutos do Espírito mencionados em Gálatas 5:22-23 — Amor, Alegria, Paz, Paciência, Benignidade, Bondade, Fidelidade, Mansidão e Domínio Próprio — não vêm com etiquetas de “masculino” ou “feminino”. São qualidades universais.
Embora a maioria das virtudes seja, de fato, universal — tanto homens quanto mulheres são chamados a serem amorosos, misericordiosos, justos, corajosos, e assim por diante — essas virtudes podem se manifestar de maneira diferente na experiência masculina e feminina. E isso não é um problema. Nosso objetivo aqui não é negar essas diferenças, mas reconhecer e valorizar a contribuição única de cada sexo. Homens e mulheres exercendo seus dons são como um violino e um violoncelo tocando um dueto: cada um mantém seu tom único, mas ambos se misturam em harmonia.
E o que fazer então?
Todo grande movimento de reforma — seja social, político ou espiritual — exigiu a parceria entre homens e mulheres. Sempre foi assim, e hoje não é diferente. Homens e mulheres foram criados à imagem de Deus para cooperar no cumprimento do mandato cultural. Nenhum dos sexos pode cumprir seu propósito denegrindo o outro.
Então, por que insistimos em acusar uns aos outros? Por que insistimos em apontar o dedo e rotular o outro como “tóxico”? Há uma estratégia muito melhor: apoiar o senso inato que cada um tem sobre o que significa ser homem ou mulher, segundo a Palavra de Deus.
Em vez de acusar, acolha.
Em vez de atacar, apoie.
Em vez de desprezar, AME.
Outra opção? Bem, podemos insistir no erro, claro. Podemos continuar lutando separados, um acusando o outro de tudo de ruim e nunca assumindo responsabilidade por coisa alguma. Mas deixa eu te mostrar aonde isso está nos levando:

Pare de trocar farpas…
…. e acusações nas redes sociais! Pare de exigir valores e condutas do outro que você mesmo não cultiva. Pare de olhar para o cisco no olho do outro enquanto ignora a TRAVE que está no seu.
Sabe por onde tudo começa? Pelo seu relacionamento com Deus. Coloque-o em primeiro lugar. Seja você um homem ou uma mulher de valor, conforme o plano original de Deus.
E então, veja o milagre acontecer.