A jornada do herói
O que é e porque importa?
Você já percebeu que muitas histórias parecem ter um padrão semelhante? Sempre há um protagonista que parte em uma aventura, faz novos amigos, encontra obstáculos, luta contra um vilão e volta para casa uma pessoa mudada. Esse padrão tem um nome: a Jornada do Herói.
Já ouviu falar? Até recentemente eu não conhecia também. Mas é muito interessante! A jornada do herói é um padrão que a gente consegue encontrar na maioria dos grandes mitos e aventuras praticamente em todas as culturas.
A primeira vez que o termo “jornada do herói” apareceu foi em 1949 no livro “O Herói de Mil Faces”, de Joseph Campbell. Ele dedicou a sua vida a estudar as artes, literatura, religião e mitologia. Suas pesquisas levaram a consolidação de um padrão narrativo que estava presente nas histórias de diversas civilizações.
Desde então, diversos autores adaptaram a jornada do herói de forma a facilitar o seu entendimento. Então quais seriam essas etapas que as histórias seguem?
1. O mundo comum e o chamado à aventura
A história começa apresentando o protagonista em seu status quo, sua vida cotidiana. Então, o protagonista recebe um chamado à aventura, que pode ser um convite externo ou uma situação em que ele mesmo se coloca. Por exemplo, Harry Potter foi convidado por meio de cartas e da visita do Hagrid para ir estudar em Hogwarts (fator externo). Já a Katniss Everdeen decidiu por conta própria se voluntariar para participar dos jogos vorazes no lugar da irmã mais nova dela (fator interno).
2. Recusa do chamado
Geralmente, depois de receber o convite, o protagonista reluta em aceitar, porque ele não quer sair de seu mundo comum. Foi o que aconteceu com Luke Skywalker que, a princípio, se recusa a ajudar a princesa Leia.
3. Encontro com o mentor
O herói, então, recebe conselho de um mentor que o incentiva a viver por uma causa maior – e aceitar o chamado para a ação. Por exemplo, Haymitch, o mentor de Katniss Everdeen (em Jogos Vorazes). Ele é um dos sobreviventes de edições anteriores dos jogos e tem algumas dicas valiosas que ajudarão a protagonista a se manter viva. E quem não lembra de Gandalf?
4. A travessia do limiar
Finalmente, o futuro herói deixa o seu mundo comum e embarca no desconhecido. Esse é o momento em que o protagonista entra na nave que vai levá-lo para o espaço, no trem que vai para Hogwarts ou toma um comprimido vermelho para descobrir o que é a Matrix.
5. Provas, aliados e inimigos
Dentro do novo mundo, o personagem principal irá fazer amigos, inimigos e enfrentará os seus primeiros testes. Bilbo enfrenta trolls, aranhas sanguinárias, elfos hostis da floresta e Golum – mas ele se torna amigo dos elfos de Valfenda e do homem-urso – Beorn.
6. A provação
Aqui é quando de fato acontece o encontro com o chefão. Ou seja, esse é o maior desafio que o herói precisa enfrentar em sua jornada. Geralmente, o herói precisa se sacrificar para derrotar o vilão ou para salvar um aliado. E muitas vezes também o nosso herói passa por algum tipo de ressurreição. Neo luta para aceitar seu novo papel, mas finalmente aprende a se tornar quem ele deveria ser depois de se sacrificar pra salvar Morfeu. E no fim, ele volta a vida e derrota o Agente Smith dentro da Matrix.
7. A recompensa
Após passar pela provação, o herói ressurge como um novo homem. E recebe uma recompensa que pode ser um prêmio, título, objeto precioso ou nova habilidade. Por exemplo, no final do primeiro filme do Harry Potter, Dumbledore dá pontos extras para Harry, Rony e Hermione, o que faz com que Grifinória ultrapasse Sonserina e ganhe a Taça das Casas.
8. O retorno
Agora sim, finalmente, o herói retorna ao seu mundo comum trazendo consigo o elixir (uma poção mágica com poderes de cura), um tesouro ou uma grande lição que ele aprendeu ao longo de toda essa jornada. Como em O Hobbit, Bilbo retorna para casa no Condado com sua parte do tesouro e muita sabedoria adquirida.
Alguns acham que a jornada do herói é uma fórmula batida e pouco criativa usada para criar heróis genéricos. Mas esse é um erro de percepção à lá tostines (vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?).
A jornada do herói NÃO é uma fórmula que foi criada pra servir Hollywood. Hollywood é que se serviu dela. Ela é produto da observação de narrativas, mitos e histórias ao redor do mundo e em diferentes épocas. Dessa análise chegou-se a um padrão comum. Ao longo da história e em diferentes culturas, essa estrutura narrativa tem uma ressonância muito forte com os seres humanos.
Dessa forma, quando livros e filmes aplicam a jornada acabam tendo um enorme sucesso com o público mesmo que o autor não os tenha criado pensando nessa estrutura.
Claro, isso não significa dizer que apenas as histórias com essa estrutura são boas ou que farão sucesso. Ou que usar a jornada é sinônimo automático de sucesso, já que ela pode ser mal feita. Também não significa que todos vão gostar de histórias assim, mas é algo que ressona com grande parte do público de várias culturas diferentes.
Mas qual seria o motivo dessa estrutura ser tão impactante em povos e épocas tão diferentes?
A Jornada do Herói reflete algo transcendente.
Em seu livro Fator Melquisedeque, o antropólogo Don Richardson descreve como Deus deu testemunho prévio de Si mesmo a todos os povos. Por causa disso, certos motivos e temas podem ser encontrados em muitas culturas. Muitos desses mitos, lendas e tradições primitivas refletem uma narrativa redentora e muitas vezes prefiguram o Evangelho.
Claro, para o estudante das Escrituras, isso não é revelador. Romanos 1-3 nos diz que todo ser humano possui um senso intuitivo de uma lei e de um Legislador. Isso é frequentemente chamado de revelação geral porque é um conhecimento de Deus que está plenamente disponível para toda a humanidade. Assim, Richardson destaca histórias e profecias de numerosas culturas – birmanesa, chinesa, inca, africana e até mesmo indígena norte-americana – que refletem conceitos bíblicos. Os conceitos de Um Deus Verdadeiro, uma Queda universal, Céu, Inferno, um Cordeiro Sacrificial, um Livro sagrado e um Grande Salvador que nos resgatará, existem há séculos em centenas de culturas – mesmo aquelas sem conhecimento prévio do Evangelho.
Sabendo disso, começamos a entender então por que a Jornada do Herói ressoa em tantas culturas e meios. Ela reflete uma verdade universal. Jesus é O Herói e o Evangelho é A jornada em que o próprio Criador entra no mundo comum, passa pela provação das provações e ressurge triunfante.
Quando vemos filmes e lemos livros com esse padrão nos lembramos e ansiamos pelo Herói dos heróis, nosso Senhor Jesus. E agora Jesus nos chama para nos juntarmos a Ele em uma grande aventura, com Ele como nosso Mentor, além do Limiar e através das provações, em direção a recompensa – a vida eterna.
Deus está te chamando para a aventura da sua vida. Vai encarar?