Barbie
Qual é a lição afinal?
Depois de muita reflexão, é hora de falar sobre o filme da Barbie.
A primeira coisa que você precisa saber é que Ryan Gosling é a melhor parte da história. Sempre que ele estava em cena, o filme melhorava. Além disso, Margot Robbie é uma ótima escolha para a Barbie. O figurino e os cenários da Barbielândia também foram muito bem-feitos. Tenho certeza de que as meninas pegaram muitas referências.
Mas, infelizmente o filme falha no enredo.
A primeira cena do filme com as meninas quebrando suas bonecas já nos diz que este filme será um comentário social: deixe esse foco antiquado na maternidade para trás, seja como a Barbie!
Em um nível superficial, esse filme seria apenas uma história divertida e colorida sobre uma boneca Barbie descobrindo o “mundo real”. Mas raramente temos algo saindo de Hollywood que não carregue algumas mensagens subliminares (ou não tão subliminares assim). Você duvida que há mensagens intencionais neste filme? Deixo a estrela do filme te dizer então:
“Acho que em muitas outras mãos esse filme da Barbie permaneceria no nível da superfície, mas eu sabia que Greta teria muito a dizer e sabia que ela iria meio que ia “cavalo de troiar” um monte de grandes problemas dentro de um mundo muito divertido”1
Margot Robbie
Que escolha interessante de palavras – cavalo de troia.
Cavalo de Tróia é um enorme cavalo de madeira oco construído pelos gregos. Esses, fingindo abandonar a guerra, persuadiram os troianos de que o cavalo era uma oferenda a Atena (deusa da guerra). Apesar dos avisos, o cavalo foi levado para dentro dos portões da cidade de Troia. Naquela noite, guerreiros gregos saíram de dentro do cavalo e abriram os portões para deixar o exército grego entrar e derrotar os troianos. A expressão Cavalo de Troia é popularmente utilizada para referir-se a um artifício astuto, um ardil para enganar o outro e conseguir aquilo que se deseja.
Dito isso, vamos ao enredo do filme:
Barbielândia é o lugar onde todas as Barbies vivem. Lá tudo é colorido e alegre. Todo dia é dia de festa para as Barbies, e elas governam seu mundo rosa, donas de todos os empregos e posições de liderança. E os Kens? Eles estão lá: “Barbie tem um ótimo dia todos os dias. Ken só tem um ótimo dia se a Barbie olhar para ele.” Eles não têm outro objetivo a não ser entreter as Barbies, ninguém sabe nem onde eles moram. Existe um Ken para cada Barbie, mas elas não se importam muito com eles, nem mesmo a nossa protagonista (a partir de agora chamada de Margot Barbie hehe).
Em um filme superficial isso apenas significaria como as meninas enquanto brincam com suas bonecas, não dão tanta atenção aos seus bonecos Ken. MAS, esse filme é um comentário social, então, temos outro significado aqui. Acredito que a ideia era colocar os Kens na posição que Greta acredita que as mulheres enfrentam no mundo real. Os Kens seriam as “mulheres” ou o sexo oprimido daquele mundo. Então, seguindo essa mesma lógica, as Barbies seriam os “homens” ou o sexo opressor dessa realidade?
Vamos acompanhar um pouco mais a trama: Então, Margot Barbie começa a enfrentar alguns problemas que a tornam consciente do “mundo real” e deve viajar até ele para tentar resolvê-los. Ken vai junto porque o pobre rapaz ainda está tentando conseguir a afeição de sua Barbie.
Eles finalmente chegam ao “mundo real” e Margot Barbie imediatamente começa a detestá-lo. Ela é constantemente assediada por homens de todas as maneiras possíveis.
Você deve estar se perguntando por que estou escrevendo “mundo real” entre aspas. Bem, isso é porque esse não é o mundo real como o conhecemos. É o mundo fictício do patriarcado, que é o oposto da Barbielândia, onde mesmo sendo meio tontos, os homens mandam em tudo, em todos os lugares ao mesmo tempo.
Não, este não é o mundo real e vou dar alguns exemplos do porquê: 1) No filme a diretoria da empresa Mattel era exclusivamente masculina. Enquanto no mundo real temos metade mulheres e metade homens. Uma verdadeira igualdade de gênero, certo? Certo? 2) No mundo real, o filme foi dirigido e escrito por uma mulher. Algo impensado no mundo do patriarcado, certo?
De qualquer forma, enquanto Margot Barbie não estava tendo uma boa experiência no mundo do patriarcado, Ken estava. Por quê? Pelo simples fato de estar sendo notado como pessoa. As pessoas sabiam que ele existia e o tratavam com respeito. Sem realmente entender o que estava acontecendo, mas gostando muito, ele chama esse respeito recém-descoberto de patriarcado. Convencido de que estava sendo oprimido, ele volta para a Barbielândia com essas novas ideias pronto para implementá-las. Lembre-se, se ele estava sendo oprimido em seu mundo, assim como Greta acredita que as mulheres estão no mundo real, por que ele não deveria lutar por respeito e reconhecimento?
Em questão de um dia (UM DIA!) ele implementa com sucesso o patriarcado na Barbielândia. YAY! Abaixo a opressão, certo! Certo? Bem, não, acho que o pêndulo foi longe demais para o outro lado. Nem a Barbielândia nem a Kenlândia são equilibradas e justas para os dois sexos.
Então aqui vem nossa heroína para o resgate! Margot Barbie está de volta e não gosta do que os Kens fizeram com o local. Mas o que ela deveria fazer? Quando ela conversa com Ken e demonstra que não gostou das mudanças, ele então pergunta:
“Como você se sente? Não é divertido, é?”
Essa deveria ter sido a deixa para nossa heroína perceber que a Barbielândia não estava sendo divertida para os Kens, que elas os estavam oprimindo e que deveriam fazer mudanças para respeitar e incluir a todos. Barbielândia deveria ser divertida para Barbies e para Kens, certo? Certo?
Bem… não. As Barbies seguem com um plano para trazer a Barbielândia de volta ao que era, tramando e manipulando emocionalmente os Kens, aproveitando-se mais uma vez de sua afeição por elas. Deixe-me lembrá-lo de que neste mundo os papéis foram supostamente invertidos, as Barbies assumindo o papel dos opressores. Devemos acreditar então que a manipulação emocional é ok? Tá de boas? Sério?
Claro, elas vencem, Barbielândia é novamente o reinado das Barbies e aqui é o momento mais decepcionante do filme. A história ainda teria alguma redenção se Barbies e Kens tivessem aprendido suas lições. Mas as Barbies não aprenderam nada. Eles ainda tratam os Kens como cidadãos de segunda categoria e quando eles pedem uma (apenas uma!) cadeira na Suprema Corte a resposta foi NÃO, “talvez um juiz de primeira instância”.
Que condescendente, ina-cre-di-tá-vel! O problema é que o filme quer que torçamos pelas Barbies, que as vejamos como as heroínas dessa história, mas ao mesmo tempo elas são opressoras no seu mundo. Não tem como elas serem as mocinhas e vilãs ao mesmo tempo. Que enredo e final confusos.
O que devemos tirar desse filme? A opressão é ok desde que eu esteja no poder? Se as mulheres estão no poder, a igualdade de gênero não importa mais? Que a solução para a opressão de gênero não é a igualdade, mas a opressão reversa?
Pobre Kens. Estou cansada dessa batalha de sexos, essa luta pelo poder que muitas vezes é mascarada como uma luta pela igualdade. E ainda temos esse discurso:
“Tem que ser chefe, mas não pode ser mau. Você tem que liderar, mas não pode esmagar as ideias dos outros.”
O que isso significa, gente? As mulheres estão lutando pelo direito de serem pessoas ruins agora? Que loucura é essa?
Toda essa confusão e conflito decorre de nosso desvio da verdade: fomos criados iguais em valor e dignidade – como imagem e semelhança de Deus. Mas Ele nos fez dois sexos diferentes, e com isso vem uma biologia diferente e papéis diferentes. Pensamos e nos comportamos de maneira diferente. Temos pontos fortes e fracos diferentes.
E tudo isso foi feito intencionalmente por Deus, que viu sua criação e chamou de BOA. Quanto mais seguirmos Suas instruções, mais felizes seremos e mais equilíbrio e amor teremos entre os sexos. Mas não gostamos de nossos papéis como criaturas, não é mesmo Barbie? Sempre almejamos o papel do Criador. Queremos mandar e não obedecer. As coisas sempre pioram a partir desse pecado original, mas NUNCA aprendemos nossa lição.
- https://www.goodmorningamerica.com/culture/story/barbie-cast-film-reframes-iconic-doll-childhood-101369497 ↩︎