Coringa – Joker
A causa do sofrimento humano e a salvação
Temos uma nova tendência do cinema: Parece que quanto mais um personagem tiver uma vida difícil (sejam eles abusados, maltratados, negligenciados etc.) mais justificadas serão suas atitudes imorais.
Esta é uma mensagem que alguns extraíram do filme “Coringa”. Mas o comportamento imoral não deve ser justificado, não importa a causa. Embora eu acredite que o modo como alguém é criado desempenha um grande fator em quem ele se torna, esse não é o ÚNICO fator e certamente não justifica o mal.
Podemos desculpar as ações de Arthur por tudo que ele sofreu? Você desculparia as ações de Hitler se descobrisse que ele tinha pais abusivos? Que ele foi maltratado por colegas judeus na adolescência? Podemos fazer o mal porque o mal foi feito a nós?
O mundo não é um lugar justo. Todos, em algum grau, sofrerão maus tratos, preconceito, negligência, violência, traição etc. Imagine se todos que sofreram alguns desses sofrimentos decidissem revidar de forma violenta ou imoral? Você acha que ainda haveria um mundo funcional e civilizado no final dessa estrada? Haveria apenas caos. O egoísmo e a crueldade geram apenas mais egoísmo e crueldade em um ciclo vicioso perpétuo.
Mas como chegamos a um mundo tão injusto, indiferente e violento? A cidade que o filme exibe poderia muito bem ser qualquer grande cidade do mundo. Nova York, Paris, São Paulo. É deprimente assistir a forma como o filme retrata a doença mental e a indiferença da sociedade justamente porque é inspirado na realidade. O que vemos na tela é o que nos tornamos: um mundo sem Deus, cheio de indivíduos egocêntricos. Tão presos em suas necessidades, felicidade e bem-estar, que não conseguem ver, muito menos ter empatia com o sofrimento do próximo.
Arthur, depois de se tornar o Coringa, disse: “Eu não acredito em nada”. E o mesmo acontece aqui no mundo real. Uma sociedade completamente caída e corrupta não pode produzir outra coisa senão homens completamente caídos e corruptos. Essa é uma das mensagens que eu encontrei nesse filme.
Esse é o resultado lógico de excluir Deus e confiar apenas em homens para te salvar. O problema é que as pessoas, sendo as criaturas caídas que são, sempre vão decepcionar. No final, é a completa ausência de Deus e seus valores absolutos que gera todo esse sofrimento.
Agora, quando Deus está em cena, podemos olhar para ele em vez de nos voltarmos para mais escuridão. Ele pode mudar nossa história, não importa de onde viemos. Não importa os sofrimentos, injustiças e violências que sofremos. Vemos isso frequentemente nas prisões, onde pessoas que andaram na escuridão total mudam seus caminhos quando encontram Jesus.
Ninguém enxergava Arthur, ninguém se importava. Mas não somos inúteis aos olhos do Senhor, mesmo que o mundo diga o contrário. Se você se sente perdido e esquecido como Arthur, saiba que Deus não se esqueceu de você. O Criador deixou Sua gloriosa existência para caminhar entre nós como um ser humano. Ele sofreu assim como nós. Ele foi traído, acusado injustamente, torturado e morto. Ele sabe exatamente o que significa sofrimento. E Ele permitiu que tudo isso acontecesse consigo mesmo por amor. Ele nos ama tanto que morreu na cruz por nossos pecados.
“Mas eu sou a vítima, não fiz nada de errado. Eu sou uma boa pessoa. Jesus não precisava morrer por mim.” Alguns diriam. Lamento dizer que você não é bom. Eu não sou boa. Ah não. Cometemos muitos erros. Machucamos pessoas. Nos machucamos. Você e eu, somos a sociedade que trata os outros com indiferença, zombando e julgando mal nosso próximo. Que olha para o outro lado quando uma injustiça está acontecendo. Que nunca se envolve porque perturbaria nossa rotina. Que não vê o sofrimento sentado bem ao nosso lado no metrô. Que diz palavras de raiva em vez de carinho. Que mente. Que engana. Que inveja. Somos todos parte do problema, nós o causamos. É ingênuo pensar que somos apenas vítimas daquela entidade etérea que aprendemos a chamar de “sociedade”. Meu amigo você é essa sociedade!
E é por isso que Jesus morreu por todos nós. Pois precisamos ser salvos de nós mesmos. Graças a Deus que nossa corrupção não pode apagar Seu amor por nós!
E dizia: O que sai do homem, isso é que contamina o homem. Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.
Marcos 7.20-23
Glorificação da violência?
Para aqueles que pensam que o filme glorifica a violência, não é verdade. O filme mostra a jornada de Arthur Fleck para a loucura e o mal, mas não tolera suas ações. Você o compreende, mas não deve apoiá-lo. Seus atos de violência trazem satisfação ao personagem, mas são atos horríveis e malignos. O terror de suas ações está em plena exibição – e não há qualquer qualidade redentora.
Arthur se gloria em seus atos violentos, e é crucial que nós, como membros do público, dediquemos tempo para entender essa distinção. Esse é um filme como “Taxi Driver” ou “O Rei da Comédia”, que confia na capacidade de seu público de emitir seu próprio julgamento moral sobre os atos depravados do protagonista, e não apenas aceitar cegamente Arthur como o herói, ou ver suas ações como moralmente aceitáveis, simplesmente porque ele é o personagem principal, e nos é permitido um vislumbre de sua alma. O filme exige mais de seu público do que um típico filme de história em quadrinhos.
Protagonista, não herói
Vamos ser claros aqui. Arthur/Coringa é o personagem principal, o protagonista, mas não é o herói dessa história. O filme, na verdade, não mostrou nenhum herói. Estamos assistindo a ascensão de um vilão. Não vamos esquecer esse fato.
É também um filme que não glamouriza ou romantiza o personagem do Coringa, mas em vez disso, cria uma versão do Coringa que é psicologicamente plausível, compreensível, triste e completamente horrível.
Se você sair desse filme, pensando que o Coringa é um herói, ou que tudo o que ele fez é completamente justificável e, que deveríamos estar fazendo como ele. Bem, você se coloca no mesmo nível de um homem mentalmente doente e muito perturbado. Isso é um pouco assustador, talvez você também precise de ajuda.
Não é um filme fácil de assistir, nem deveria ser. Isso é cinema, não entretenimento. É um filme sério que exige ser ouvido e levado a sério. É um filme para nos fazer pensar e até reconsiderar nossos próprios comportamentos. A Bíblia também não é fácil de ler com seu retrato claro e honesto do pecado e depravação do homem.
Seja gentil, sempre
Por fim, a última mensagem que podemos encontrar nesse filme está resumida em uma citação de Robin Williams:
“Todos que você encontra estão travando uma batalha da qual você nada sabe. Seja gentil sempre.”
Devemos ser mais gentis uns com os outros, não odiando quem tem mais do que nós e nem menosprezando quem tem menos. Não zombando das pessoas que não se encaixam ou demonizando aqueles que se encaixam perfeitamente.
Este filme não é sobre política, vai muito além disso. Este filme é sobre a natureza humana. É um filme que fala sobre nossos medos e inseguranças mais profundos. Sobre o mundo e sobre nós mesmos.
Não podemos esperar que o sistema, qualquer sistema que seja, se importe e resolva tudo. Culpar o sistema é uma maneira fácil que encontramos de não tirar a nossa retumbância da cadeira. Esqueça o sistema.
Nós devemos agir. Devemos nos apoiar. Cuidar uns dos outros. Devemos ser gentis uns com os outros. Aliviar as dores uns dos outros. AGORA. Não espere toda a sua vida que um “sistema” faça o trabalho por você. O mandamento de amar o próximo como a si mesmo não foi dado ao “sistema”. Foi dado a você e eu, pessoalmente.