Cruella
O mal sedutor.
O filme apresenta a história da lendária, icônica e fashion vilã da Disney, Cruella de Vil. Ambientado na Londres dos anos 70, o filme mostra uma jovem vigarista chamada Estella, uma garota inteligente e criativa determinada a fazer um nome para si através de seus designs. Ela faz amizade com uma dupla de jovens ladrões e, juntos, constroem uma vida para si nas ruas de Londres.
Um dia, o talento de Estella para a moda chama a atenção da Baronesa Von Hellman, uma lenda fashion, chique e assustadora. Mas o relacionamento delas desencadeia eventos e revelações que farão com que Estella abrace seu lado rebelde e se torne a Cruella má, elegante e voltada para a vingança.
Existem duas formas de assistir esse filme: uma é acreditando mesmo que ela é a Cruella original ou aceitando que essa nada mais é do que a versão fashion (em preto e branco) da Arlequina.
Claramente esse filme tenta surfar na onda da Arlequina dos cinemas e nesse sentido é bem-sucedido. O filme é bem-feito e Emma Stone e Emma Thompson estão ótimas em seus papéis. Mas, vamos lá, essa não é exatamente a Cruella do desenho. Pelo menos ainda não. Eu me dei ao trabalho de reassistir o desenho pra poder dizer isso.
Enquanto a Cruella do desenho não tinha nenhum escrúpulo e sentimento e não hesitaria em matar e esfolar 99 filhotinhos, a Cruella do filme, bom, se ela adotar mais um cachorro, já pode abrir um canil.
A Cruella do desenho não sente culpa, remorso ou afeto. A Cruella do filme sente tudo isso e mais um pouco. Chama seus comparsas de família, ama a mãe e adota um monte de cachorro.
Foi necessário abrandar o personagem pra que o público pudesse sentir o mínimo de identificação com um papel que foi criado pra gerar repulsa, uma vilã né.
Temos que ter cuidado com filmes como este. A mensagem do filme parece ser que você cresce para ser quem você “nasceu para ser”. Estella não tem como lutar contra sua natureza má para sempre, então ela pode muito bem ceder a ela. Então, ela abandona seu desejo de ser “boa”, porque ser má é muito mais útil (e muito mais divertido!).
Isso lembra o romance Dr. Jekyll e Mr. Hyde. A moral dessa história é que se você alimentar sua natureza má, mesmo que um pouco, ela logo consome sua vida. Jekyll pensou que poderia se separar em duas pessoas, mas ceder à sua natureza má fez com que ela assumisse o controle de sua vida e apagasse o que havia de bom dentro dele.
Cruella é semelhante, o conto de uma garota que cede à sua pior natureza, mas isso não é apresentado sob uma luz negativa. O filme se torna muito mais agradável e divertido quando Cruella toma conta, o que pode passar a ideia de que ser mal é mais glamoroso e razoável do que tentar ser bom (principalmente para crianças).
Porque Cruella estava lutando contra alguém que era muito má, a baronesa, ficamos do lado dela. Torcemos por ela e até flertamos com a ideia de Cruella ser uma heroína. Ela não é. Cruella escolhe ativamente ser má e se deleita com isso. Ela deixou a escuridão vencer, e embora Disney tenha atenuado sua maldade neste filme, sabemos quem a personagem vai se tornar.
Ninguém é perfeito, e todos nós lutamos contra nossa natureza diariamente. É o que Jesus nos pede para fazer: tratar os outros como gostaríamos de ser tratados, perdoar àqueles que nos fazem mal e resistir aos nossos impulsos pecaminosos. Por mais divertida que seja a história de origem dessa vilã, precisamos lembrar que o desejo de vingança de Cruella, sua crueldade e como ela trata as outras pessoas não devem ser admiradas ou imitadas.