Dororo
Prosperidade a qualquer custo
Kagemitsu Daigo era o senhor feudal de Ishikawa e vassalo do governador da província de Kaga. Ele forjou um pacto com 12 demônios em troca de poder e prosperidade. Nesse pacto cada demônio recebeu um pedaço do corpo de seu filho ainda não nascido e assim ganharam liberdade para vagar pela terra.
O bebê nasce com vida, mas várias partes faltando, o que confirma para seu pai que o pacto foi aceito e ele ordena a morte do bebê. Ele é entregue a parteira, mas ela não tem coragem de matar a criança e coloca o bebê em um barco para que o destino decidisse sua vida ou morte.
O barco cruza o caminho de um ex-combatente de guerra chamado Jukai que agora faz próteses de madeira para pessoas feridas. Ao encontrar o bebê naquelas condições, ele decide criá-lo e construir próteses para ele.
O tempo passa e o bebê se transforma em um menino chamado Hyakkimaru. Como não possui partes de seu corpo ele não fala, não enxerga e não escuta, mas é capaz de ver a cor da alma das pessoas – branca para pessoas boas e vermelha para demônios. Sabendo que não conseguiria proteger o menino de demônios para sempre, seu pai adotivo ensina a criança a se defender e assim, Hyakkimaru começa a lutar contra demônios e recuperar partes de seu corpo quando os mata.
Hyakkimaru começa a viajar como um samurai que enfrenta monstros a fim de recuperar seu corpo inteiro. Durante uma dessas viagens, ele encontra Dororo, uma criança órfã de guerra. Dororo passa a acompanhar Hyakkimaru em suas viagens e os dois criam fortes laços de amizade.
Kagemitsu finalmente descobre que seu filho mais velho ainda está vivo e agora está matando demônios para recuperar as partes de seu corpo. E a cada parte recuperada ele vê a prosperidade de suas terras e seu poder diminuindo. Quando ele fica sabendo que Hyakkimaru está em seu próprio território, Kagemitsu, acompanhado de seu segundo filho e suas tropas confrontam seu filho mais velho e tentam matá-lo.
A comunidade não só queria matá-lo como queria que ele, a vítima, se sentisse culpado por existir, por querer viver. A justificativa que Kagemitsu, seu segundo filho e seus seguidores dão para matar Hyakkimaru é que o sacrifício de um pela prosperidade de todos é moralmente válido. Se o sacrifício de um pode salvar 1000 da pobreza, então estamos justificados no assassinato (sim, assassinato porque não foi escolha de Hyakkimaru, ele queria viver).
Chamamos esse conceito de utilitarismo – “agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar” ou os fins justificam os meios. Deus está interessado nas nossas intenções, objetivos finais E na forma como agimos para alcançá-los. Cometer um pecado buscando um “bem maior” nunca será o caminho correto e seremos cobrados por Deus quando assim procedemos.
Mas tem mais uma questão nesse anime que me chama a atenção – o sacrifício do f3to em prol de prosperidade material lembra muito uma notícia que li um tempo atrás: Michelle Williams agradece ao @bort.o por sua vitória no Globo de Ouro.
“Sou grata pelo reconhecimento das escolhas que fiz e por ter vivido em um momento em nossa sociedade em que a escolha existe, porque, como mulheres e meninas, coisas podem acontecer com nossos corpos que não são nossa escolha”. “Eu não seria capaz de fazer isso sem empregar o direito de escolha de uma mulher, de escolher quando ter meus filhos e com quem”, acrescentou Williams.
O público no teatro, é claro, aplaudiu Williams por sua “coragem” ao admitir que conquistou sua liberdade de uma criança indesejada e a mídia a elogiou por dizer, na prática, que ela não teria ganhado seu precioso Globo de Ouro se não tivesse interrompido uma gravidez anterior.
Dororo é um anime fantasioso e um tanto violento, mas que não está tão longe da realidade assim não é mesmo?