Free Guy
Vivemos como NPCs?
Guy mora em Free City. Ele tem uma rotina bem específica. Ele acorda, dá bom-dia ao seu peixinho dourado, veste sua camisa azul, assiste ao noticiário, compra o seu café e vai para o trabalho em seu lugar preferido no mundo… o banco.
O seu trabalho no banco tem seus perigos, pois todos os dias alguém chega e grita: “Todo mundo deita no chão! Ninguém precisa ser herói! Tudo isso vai acabar logo.” Então Guy se abaixa atrás do balcão, como sempre, com seu melhor amigo, um segurança chamado Buddy.
Mas Guy não está mais satisfeito. Ele diz a Buddy que quer mais. Ele está cansado da mesma rotina, dia após dia. Um dia quando os dois saem do banco, Guy avista o amor de sua vida andando pela rua, Molotov Girl.
Após uma breve interação com Molotov, ela diz a ele que se Guy quiser passar mais tempo com ela e ajudá-la em sua missão, ele deve atingir pelo menos um nível 100.
Nível 100? O que Guy ainda não sabe é que Free City é na verdade um videogame e Guy é um NPC (personagem não jogável), enquanto Molotov é uma jogadora (uma pessoa do mundo real chamada Millie).
Millie/Molotov Girl precisa da ajuda de Guy para recuperar informações no jogo que provam que a codificação original de um jogo dela e de seu amigo Walter foi usada nesse jogo – Free City (em essência, a empresa de jogos Soonami usou o jogo original de Millie e Walter como base para montar um novo sem dar nenhum crédito aos dois).
E assim a história segue seu curso.
Temos aqui uma mistura de Show de Truman e Detona Ralph, mas com um enredo menos inspirado. É uma história simples e superficial repleta de Easter Eggs e referências de várias franquias de jogos (Freefire, Portal, Half-Life, Star Wars, Marvel, etc).
O filme não se leva à sério, então a gente também não deve levar. Os personagens e o humor (junto com as referências) funcionam bem o suficiente pra nos entreter por duas horas.
Duas coisas nas vidas desses NPCs me chamaram atenção: A primeira foi a naturalidade com que os personagens, os NPCs, lidavam com toda aquela violência ao redor deles. Nada gera medo ou choca mais, faz parte da rotina.
O ser humano também tem essa tendência, de normalizar ou se acostumar com algo que se torna frequente e cotidiano. De certa forma, me parece um mecanismo de proteção psicológica. Não conseguiríamos viver com medo o tempo todo. Mas a gente tem que ter cuidado pra não perder nesse processo o senso de certo e errado e de empatia.
Isso me lembrou de algo que aconteceu em 2016 no Rio de Janeiro. Durante a cobertura da queda da ciclovia da Avenida Niemeyer, em São Conrado, que vitimou pelo menos duas pessoas, um “detalhe” não passou despercebido: a indiferença de quem continuou seus momentos de lazer apesar da tragédia. Enquanto os dois corpos encontrados ainda estavam na areia da praia, banhistas jogavam altinho ali perto, aparentemente alheios à tragédia.
Não dá pra ser assim, não podemos deixar o amor esfriar dessa forma.
O segundo ponto que achei interessante foi a rotina dos nossos personagens NPCs. Todo dia eles acordavam, tomavam o seu café, trabalhavam, e voltavam para casa só para começar tudo de novo no dia seguinte. Uma rotina mecânica e aparentemente sem propósito ou significado. A nossa rotina diária é parece bastante com a desses personagens fictícios. Mas será que a nossa vida, assim como a deles, carece de propósito e significado?
Sabemos que não. Temos um propósito muito claro – servir a Deus e ao próximo. Todas as nossas interações diárias são intencionais. Estamos no lugar que Deus preparou pra nós. Encontrando e interagindo com as pessoas que, por meio da nossa vida e exemplo, poderão encontrar a Deus e ser salvas.
Nosso trabalho também glorifica a Deus, seja presidindo uma grande empresa ou lavando pratos em um restaurante. Estamos servindo à Deus com nosso intelecto e com nossas mãos independente do trabalho que fazemos. Pois ao trabalharmos com dedicação e honestidade, nossas ações revelam a Deus àqueles que nos observam.
“Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo.”
Colossenses 3.23,24
“Assim, quer vocês comam, quer bebam, quer façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus.”
1 Coríntios 10.31