Godzilla Minus One
Sobre meninos e homens.
Eu amo filmes de criaturas gigantes/kaijus. Depois de assistir uma variedade deles, penso que vários filmes recentes – incluindo outras iterações de Godzilla – envergonham o gênero. Assim, entrei neste filme com uma certa reserva, mas saí do cinema satisfeita. Godzilla Minus One é excepcional. É um filme de monstros bem-feito, equilibrando perfeitamente o espetáculo com drama humano. Este não é apenas um dos melhores filmes de monstros em muito tempo, mas também é um dos melhores filmes de 2023.
Esse filme japonês revitaliza o gênero, usando um orçamento modesto de US$ 15 milhões. Ao contrário dos recentes filmes repletos de CGI de Hollywood, “Godzilla Minus One” reconhece a importância de personagens bem construídos ao lado de um monstro impressionante. Apesar dos elementos fantásticos, a narrativa permanece focada no drama humano, oferecendo bons personagens com jornadas emocionais cativantes. A visão do diretor Takashi Yamazaki se concentra em retratar Godzilla como uma força sinistra, evitando as tendências recentes de humanizar a criatura. Godzilla continua sendo uma entidade misteriosa e aterrorizante, personificando o próprio medo. E é assim que deve ser.
“Godzilla Minus One” explora temas universais de luto e culpa, e seus personagens são desafiados a perseverar em meio a dificuldades e tragédias. O “menos um” do título resume o ciclo implacável de perda e dor. E apesar do alto número de mortes, o filme trata esses momentos com peso e significado, elevando a vida diante das atrocidades. Ao final, o filme provoca reflexão sobre a resiliência e o valor da vida em meio a desafios aparentemente insuperáveis.
Koichi Shikishima diz várias vezes que “sua guerra ainda não acabou”. O conflito da Segunda Guerra Mundial pode ter terminado, mas uma luta interna continuou. Ele é assombrado por seu passado e como resultado, não consegue seguir em frente com sua vida.
Nosso protagonista passa por uma profunda transformação. Apresentado como um piloto kamikaze que fugiu de sua missão durante os últimos dias da Segunda Guerra Mundial, ele paralisa de medo ao se deparar com o monstruoso Godzilla na Ilha Odo. Em um momento crucial, Shikishima não consegue atacar a criatura, o que leva a várias mortes e acusações de covardia por parte de seu companheiro sobrevivente, Tachibana.
Em 1946, Shikishima volta para casa e descobre que seus pais foram mortos no bombardeio de Tóquio. Atormentado pela culpa do sobrevivente, ele começa a trabalhar como “caça minas” e a apoiar uma mulher, Noriko Oishi, cujos pais também morreram no bombardeio, e um bebê órfão, Akiko, que Noriko resgatou. Embora ele se recuse a assumir totalmente a responsabilidade e se tornar marido de Noriko e pai adotivo de Akiko, podemos perceber como a presença delas em sua vida começa a mudá-lo.
À medida que Godzilla evolui para uma ameaça colossal, Shikishima é lançado em uma série de batalhas contra o monstro. E quanto mais ele aceita seu papel na vida de Noriko e Akiko, menos o medo toma conta de suas ações.
Movido pela dor da perda de Noriko e por um senso de responsabilidade e paternidade para com Akiko, ele jura matar Godzilla e se envolve ativamente em um plano para destruir a criatura. O clímax da história mostra o último ato de coragem e altruísmo de Shikishima. Ele assume o comando de uma missão ousada envolvendo um avião de combate cheio de explosivos, com a intenção de voar até a boca de Godzilla e detonar a carga por dentro. Esta decisão reflete a superação das suas lutas interiores com a culpa e o medo, demonstrando uma maturidade e uma vontade de se sacrificar por amor.
Shikishima não é mais um menino. Agora ele é um homem, um marido e um pai.