Senhor dos Anéis – Golpe Fatal
Muitos contos de fadas e histórias de fantasia, como os escritos de J. R. R. Tolkien, mostram uma inversão. O conto da Cinderela, a serviçal que virou princesa, é talvez a história de reversão mais conhecida.
A história de Jesus também seria uma inversão e é nesse sentido que pode ser descrita como o “maior e mais verdadeiro conto de fadas já contado”. A Boa Nova de Cristo conduz o crente a um reino de cabeça para baixo, onde os primeiros são os últimos, os e os fracos são fortes; onde crianças e mendigos se tornam reis e senhores, e a morte e o fracasso são os verdadeiros caminhos para a vitória. Ela pega todas as nossas suposições e expectativas sobre como o mundo funciona (ou deveria funcionar) e as vira de cabeça para baixo. É isso que a torna tão maravilhosa.
O relato de Tolkien sobre o destino de Isildur, o ancestral de Aragorn, é uma história de inversão de um tipo diferente. Ele destaca as boas notícias, ressaltando as más. Em contraste com o esperançoso conto de Cinderela, que celebra a gloriosa ascensão de uma ninguém negligenciada, retrata a morte chocante de um herói glorioso.
Podemos dar um passo adiante e dizer que esse episódio trágico ilustra uma das maiores verdades que Jesus já ensinou: que aqueles que buscam ganhar perderão, enquanto aqueles que não têm medo de perder um dia herdarão a terra (Mateus 5.5; Lucas 9.24-25). Mais adiante na história do Anel veremos, no personagem de Gollum, uma representação gráfica do “poder nocivo” que corrompe, por longos períodos de tempo, aquele que o possui. Mas a ênfase aqui é diferente. A morte de Isildur, mostra-nos como a tomada de poder repentina e decisiva pode se tornar a ruína da pessoa que estende a mão para agarrá-la.
Isildur era um poderoso homem de ação. Um líder nato e herói militar. Um lutador ousado que nunca recuou diante de qualquer inimigo. Ironicamente, foram precisamente essas qualidades que levaram à sua destruição.
Foi Isildur quem, à frente da Última Aliança de Elfos e Homens, derrubou o Lorde das Trevas (Sauron) e cortou o Anel de sua mão, dando assim um golpe final no mal (ou assim ele supôs). E foi Isildur quem, nesse mesmo ato, apropriou-se do Anel, chamando-o de retribuição pelos sofrimentos de sua família em vez de jogá-lo nas chamas da Montanha da Perdição como Elrond e Círdan pediram. Nisso ele estava profundamente enganado, é claro; pois, ao contrário de suas expectativas, o mal não estava morto, e o prêmio que ele tão orgulhosamente reivindicava como seu, estava destinado a se tornar sua ruína. Mais tarde o Anel o traiu. Em uma emboscada repentina de orcs, o anel caiu de seu dedo no rio, e ele morreu ali mesmo pelas mãos dos orcs.
Muitos de nós no mundo de hoje também entendem que só obteremos vitória pelo uso da força e poder – pelas próprias habilidades, recursos abundantes ou determinação feroz. Como Isildur (e Boromir, membro da Sociedade do Anel), acreditamos que o braço forte serve melhor ao bem maior.
Mas Jesus, a quem “foi dada toda a autoridade na terra” (Mateus 28.18), não via as coisas dessa maneira. Embora “sendo por natureza Deus”, ele desprezou a oferta de poder político do diabo, morreu como um criminoso e desistiu de tudo por amor (Filipenses 2.6-7). Foi assim que ele salvou o mundo.
A história de Isildur nos ensina que aqueles que buscam o poder podem ser destruídos por ele. Isso pode não ser consistente com o que chamamos de sabedoria prática ou senso comum, mas é o cerne da mensagem cristã.
À medida que avançamos em nossas tentativas de encontrar Deus em O Senhor dos Anéis, será importante lembrar que a verdade incorporada na história de Isildur só faz sentido a partir desse ponto de vista reverso, centrado em Cristo. Para as pessoas deste mundo e desta era, o sucesso tem tudo a ver com ser grande e fazer acontecer; mas o crente em Jesus vive por um conjunto de conceitos muito diferente:
“Quando estou fraco, então sou forte” (2 Coríntios 12.10)
Adaptado do livro “Finding God in The Lord of the Rings” de Kurt Bruner e Jim Ware