Homem de Ferro 3
O passado bate à porta
Homem de Ferro 3 começa em 1999. Na virada do ano, Tony estava na Suíça fazendo o que um playboy faz de melhor, seduzindo uma mulher – Maya, uma cientista que ele confunde com uma botânica.
Nesse momento, o socialmente desajeitado, mas brilhante, Aldrich Killian aborda Tony em busca de financiamento para o seu projeto. Stark finalmente concorda em encontrá-lo no terraço em 20 minutos para repassar os detalhes do projeto. Claro, Tony sendo Tony, ele não tinha intenção de aparecer.
Agora, em 2013, após os eventos de Vingadores, Tony está de volta em sua mansão em Malibu. Ele tem problemas para dormir, nervoso com a simples menção de qualquer coisa que aconteceu em Nova York e ataques de pânico são seu novo normal. Como “terapia”, Tony gasta seu tempo construindo muitos novos trajes, mas está constantemente com medo de não ser capaz de proteger, Pepper Potts, do perigo em um mundo que está ficando cada vez maior e mais perigoso.
Somando-se aos medos de Tony está o misterioso terrorista conhecido como Mandarim, causando atos aleatórios de violência. O Mandarim está determinado a “ensinar uma lição aos Estados Unidos” da maneira mais alarmante possível. Mais do que nunca, Tony está sentindo o peso de ser um super-herói, daí todas aquelas noites sem dormir.
Algumas pessoas gostaram desse filme, outras não. Eu estou no segundo grupo. Ainda me lembro da experiência no cinema há quase 10 anos. Nunca saí de um filme tão frustrada. E revendo agora, nada mudou.
Nós já vimos esse personagem em três filmes. Vimos como sua armadura se sustentou contra Thor, o Deus do Trovão, mas agora, depois de dezenas de atualizações, ela fica sem energia, falha constantemente e desmorona repetidamente. Tony não consegue usar seu traje por mais de 5 segundos. Se Tony espirrar ela se desfaz. Que frustrante.
Há duas razões para isso, eu acho. A primeira é o humor. Este filme se esforçou demais para ser engraçado com muitas piadas, o tempo todo. Houve várias cenas em que me empolguei, sentindo que agora Stark vai salvar o dia… apenas para ver o momento interrompido com uma piada. O pior exemplo está no clímax do filme, quando Tony está enfrentando o verdadeiro vilão. Tony chama sua Mark 42, para que ele possa se vestir e acabar com o vilão. O que poderia ter sido um momento triunfante de heroísmo, tornou-se uma péssima tentativa de humor, já que o traje tropeça em algo por trás de Tony e se desfaz. Frustrante.
A segunda razão veio do próprio diretor. Em suas palavras, Tony era o verdadeiro herói, não o Homem de Ferro e o que os fãs queriam mesmo ver é ele ser um herói de ação fora do traje. Humm NÃO, eu não. Há muitos heróis de ação normais por aí, como Ethan Hunt, James Bond, etc. O que eu queria ver mesmo era aquilo que o diferencia de todos os outros – seu traje.
Vamos falar sobre o Mandarim então. O arqui-inimigo do Homem de Ferro nos quadrinhos se tornou apenas mais uma piada no filme. Que desperdício de um bom vilão. Para colocar essa decisão em perspectiva, imagine se o Coringa de Heath Ledger não fosse o vilão, mas apenas um artista contratado por algum mafioso desconhecido para intimidar o Batman. Fué.
Outra parte da trama foi Extremis. Este parece ser um elemento importante dos quadrinhos (não sou especialista), mas foi mal-feito. Se você cronometrasse a quantidade de tempo de tela dedicado a explicar aos recém-chegados o que é Extremis, de onde vem, o que exatamente é, por que está acontecendo, todas essas perguntas, seriam somariam cerca de três minutos.
O que mais? Ah, sim, buracos na trama. Tony dá seu endereço para um terrorista perigoso e depois vai para casa, que não tem nenhum protocolo de defesa real para proteger (todo mundo sabe quem ele é, e ele mora em uma casa normal?), e coloca sua armadura inacabada, aquela que não está preparada pra combate? É sério?
E o final com a explosão de todos os seus trajes? Por quê? Por que ele estava se aposentando? Os vilões também se aposentaram? Ou eles vão deixar Stark em paz agora que ele está “aposentado”? Por que ele simplesmente explodiu todos os seus meios para se proteger de ameaças futuras?
Até a cena pós-crédito do filme é sem graça.
O melhor aspecto do filme foi sua luta psicológica após os eventos de Nova York, uma forma de PTSD. Isso foi interessante e realista, mas não deu em nada. Ela simplesmente se resolveu sozinha em algum ponto do filme.
“Nós fazemos nossos próprios demônios”, diz Tony, “demônios” muitas vezes nascem de nossas próprias decisões e erros – de nossos pecados. E, como tal, Homem de Ferro 3 oferece duas lições distintas: precisamos ter cuidado com o que fazemos e como agimos em relação às outras pessoas. O narcisismo de Tony e o completo desrespeito pelos sentimentos dos outros tiveram enormes consequências neste filme. Muitas vidas perdidas porque ele não conseguiu ser educado e respeitoso com uma pessoa.
E segundo, por meio do personagem de Maya, devemos ter cuidado com as nossas decisões, por menores que pareçam, porque elas podem nos corromper no final. O pecado nos empurra escada abaixo um pequeno degrau de cada vez.
Mas o filme também nos mostra que também podemos superar nossos erros se tivermos coragem e determinação para fazê-lo.