Kung Fu Panda 3
O caminho da transformação
Escrito por Paladino
Po, agora um mestre de kung fu totalmente realizado, enfrenta uma nova ameaça quando seu pai biológico, Li Shan, reaparece inesperadamente. Enquanto isso, um vilão sobrenatural chamado Kai começa a varrer a China, derrotando todos os mestres de kung fu pelo caminho, absorvendo seus poderes. Po precisa treinar um grupo de pandas desajeitados e redescobrir suas raízes para enfrentar Kai. Ao longo do caminho, ele aprende sobre família, identidade e o verdadeiro significado de ser um mestre de kung fu.
A história de Kung Fu Panda sempre girou em torno de um tema específico. No primeiro filme, Po precisava descobrir qual caminho ele deveria percorrer para se tornar o lendário Dragão Guerreiro. No segundo, já estabelecido como um grande lutador, Po percorre um caminho de descoberta de suas verdadeiras raízes para fundamentar o seu posto como protetor do Vale da Paz e o Palácio de Jade. E no terceiro filme, último ato original, vemos Po mais uma vez trilhar um caminho de descoberta, agora não apenas para aprender novas experiências, mas também para aprender como passá-las adiante.
O tema do “caminho” sempre foi recorrente na jornada de Po, sendo que toda a história de Kung Fu Panda é uma adaptação de ensinamentos da filosofia Taoísta. Dentro dela, o caminho, é a principal forma de desenvolvimento do indivíduo em relação à sua materialidade imanente em um universo em constante desenvolvimento.
Além de conceitos filosóficos, o Taoismo se estende também para aspectos mais transcendentais. No entanto, a maior parte deles (se não todos) está ligada à maneira como o indivíduo desperta sua consciência e trilha seu caminho. Existem linhas que seguem rigorosamente o formato abnegado de viver para encontrar a imortalidade, enquanto outros falam sobre uma forma mais justa de vida, não se abstendo de pequenos deleites que a vida pode proporcionar. Eles focam mais em como a pessoa usa sua vida e que tipo de legado ela deixa para trás, como forma de desenvolvimento saudável de sua espiritualidade.
E aqui Po parece fazer um sincretismo dessas duas ideias. Enquanto Dragão Guerreiro, ele vive uma vida repleta de aventuras e diversão com seus companheiros, mas à medida que envelhece, as responsabilidades batem à porta e ele precisa abrir mão de uma vida mais “divertida”, para liderar seu povo como sucessor do Grande Mestre Oogway, em crescimento físico, filosófico e agora também espiritual.
Enquanto no primeiro filme Po precisava descobrir o ingrediente especial para se tornar um Grande Guerreiro, e no segundo conhecer seu passado para desenvolver sua Paz Interior, agora ele precisa externalizar esse ingrediente e sua paz em forma de conhecimento, aprendendo a dominar o Chi, a energia presente em todos os seres.
Por outro lado, seu inimigo é um poderoso dominador dessa técnica, porém, ele não a domina por meio de desenvolvimento próprio, mas tomando-a de outros mestres que possuem, gota a gota, dentro de si esse mesmo poder. De forma semelhante, ao despertar seu poder, Po recebe de seus amigos uma fagulha de cada Chi, como uma forma de agradecimento pelo ensinamento que ele deu a cada um.
Você nos ensinou a ser: “Um bom pai”; “uma amiga”; “um abraçador”; “uma panda de nunchaku”; “Neném listradinha” e “uma família”.
Ainda que algumas analogias possam ser traçadas entre os ensinamentos de Po e as crenças cristãs, é importante ressaltar que o Taoismo e o cristianismo são sistemas de crenças distintos, com fundamentos e preceitos que diferem significativamente em muitos aspectos. Enquanto o Taoismo enfatiza o caminho natural e a harmonia com o universo, o cristianismo baseia-se na crença em um Deus pessoal e na salvação pela fé em Jesus Cristo.
A primeira forma como a igreja foi chamada nos séculos iniciais remete a esse mesmo propósito de jornada, pois ela era chamada de O Caminho.
Nesse percurso, Jesus convida cada um que se aproxima dele, primeiro a encontrar dentro de si o ingrediente para se arrepender de seus pecados; em seguida, num processo de transformação, ele ensina a confrontar a si mesmo, conhecendo suas limitações e aprendendo quem são para se tornarem novas criaturas por meio das águas que jorram de seu interior; e por último, a aprender que da mesma maneira que alcançamos graça e misericórdia para sermos salvos, agora temos o dever de passá-la adiante, ensinando o que o Mestre do Caminho nos deixou.
Po percorre de maneira lúdica um caminho de superação e autoconhecimento, a duras penas, para desenvolver seu lado como protetor do Vale da Paz, defendendo o legado de Oogway.
Nós não precisamos ser protetores do reino, pois ele é guardado por Cristo, mas temos igual responsabilidade de defender seu legado como seus embaixadores na terra.