Luca
O valor da amizade
O jovem Luca e o seu melhor amigo, Alberto, criam coragem para visitar a pitoresca vila de Portorosso. No entanto, os meninos escondem um grande segredo: eles não são crianças comuns, mas monstros marinhos que vivem debaixo d’água, ansiosos para descobrir o que existe acima da superfície do mar. Em pouco tempo, aventura após aventura e experiência após experiência, os dois exploradores entusiasmados descobrirão o verdadeiro significado da amizade, a importância da família e o poder libertador de superar obstáculos.
Luca estreou exclusivamente no Disney+ e, por isso, pode ser que nem todos conheçam o filme. A animação não é tão bombástica e provavelmente não vai ser tão popular quanto outros clássicos da Pixar como Procurando Nemo e Os Incríveis. Mas não deixa de ser um bom filme e ainda mantém um padrão de qualidade visual e de roteiro. O “selo Pixar” de qualidade.
É uma animação tão charmosa quanto as cidades costeiras italianas costumam ser. E a história, apesar de simples, é envolvente, alegre, divertida e comovente.
Algumas pessoas enxergaram um viés sexual na relação dos dois meninos protagonistas. Francamente, é mais uma prova de como a cultura hoje é obcecada por sexo. Qualquer história que mostre uma relação próxima entre dois personagens do mesmo sexo é considerada sexual. Gente, a amizade genuína não deixou de existir não. Parem com isso. A amizade entre Luca e Alberto não é nada mais nada menos do que o amor fraterno. O amigo mais chegado do que irmão de Provérbios 18.24.
Aqui, me lembro também de algumas passagens do livro “Os quatro amores” de C.S. Lewis:
“Em nosso tempo, tornou-se necessário responder à teoria de que toda amizade séria e permanente é, de fato, homossexual… Aqueles que não concebem a Amizade como amor substantivo, mas apenas como um disfarce ou elaboração do Eros, deixam transparecer que nunca tiveram um Amigo.”
“A Amizade brota do mero companheirismo quando dois ou mais companheiros descobrem ter em comum alguma perspectiva ou interesse, ou até gosto, que os outros não compartilham e que, até o momento, cada um acreditava ser seu próprio tesouro (ou fardo) singular. A expressão típica de começo de Amizade seria algo como: “O quê? Você também? Eu pensava que era o único!”
E é isso aí que vemos no filme, a amizade surge pelo interesse partilhado por motos Vespa e viagens pelo mundo.
O filme passa por muitos temas como vencer seus medos, superar obstáculos, amizade, pertencimento e crescimento, mas eu vou falar de um tema menos óbvio: o amor como renúncia.
Amamos pizza. Amamos viajar. Amamos este ou aquele filme. O que o uso da palavra revela sobre sua definição? Esse “amor”, pelo menos na nossa cultura, é definido pelo “receber”. Baseamos nosso amor por alguém ou algo com base em como eles podem nos beneficiar emocionalmente, intelectualmente ou fisicamente. Em outras palavras, “nós” estamos no centro de nosso amor por outra parte.
O amor cristão se opõe a isso por causa de sua natureza sacrificial, de renúncia.
“Nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos.”
1 João 3.16
Em vez de receber do outro, o amor, como concebido por Deus, assume a postura de dar, de servir, de doação. O sacrifício é, de fato, fundamental para a definição mais verdadeira do que é amor:
“Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, visto que Deus assim nos amou, nós também devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor está aperfeiçoado em nós.”
1 João 4.10-12
A natureza do verdadeiro amor é paradoxal. É em doar e não em receber que encontraremos o verdadeiro contentamento. Se apenas recebermos, eventualmente começaremos a nos sentir vazios!
O amor raiz, bíblico, é principalmente uma AÇÃO, não um mero sentimento ou emoção, e certamente NÃO é um sinônimo de luxúria, paixão ou obsessão. Amor é a bondade que alguém escolhe fazer em nome de outra pessoa. Como vemos em 1 Coríntios 13, o verdadeiro amor é humilde, justo, perdoador, paciente, generoso, gentil e disposto a suportar a perda e o sofrimento pessoal.
Os pais de Luca precisaram renunciar à proteção do ninho e deixar o filho voar mais alto, para além do alcance de seus braços protetores. Luca decidiu renunciar seu sonho de estudar para fazer companhia a seu amigo solitário. E Alberto, por fim, renuncia a presença e parceria constante de seu amigo Luca para que ele possa realizar o sonho de estudar em Gênova.
Somente quando trazemos para os nossos relacionamentos, o amor-renúncia que Jesus nos ensinou, encontramos o verdadeiro contentamento e alegria que tanto ansiamos.