M3GAN
Amor artificial.
Quando Cady perde os pais em um acidente de carro, ela é enviada para morar com sua tia, Gemma, roboticista e inventora de uma empresa de brinquedos. Sob imensa pressão de trabalho, sua tia decide testar o protótipo de sua última criação, uma boneca de IA altamente avançada chamada M3GAN (Model 3 Generative Android), programada para ser a companheira mais próxima e a maior protetora de uma criança. O que poderia dar errado?
Bem, M3GAN é um filme de terror, então, tudo que pode dar errado, de fato dá. A boneca torna-se autoconsciente e leva seu dever protetor a níveis extremos e violentos. Como mencionei em posts anteriores, os cristãos muitas vezes têm problemas com o gênero terror. Mas, ao lado da ficção científica e da fantasia, acredito que é um dos melhores gêneros para mergulhar em temas às vezes desconfortáveis das emoções e experiências humanas, e M3GAN é um excelente exemplo disso.
O filme se inicia lentamente, priorizando conexões emocionais e relações tensas de Cady com a boneca e sua tia antes do surgimento do horror físico, aproximadamente uma hora após o início. A boneca M3GAN é misteriosa, com uma voz equilibrando aspectos humano e mecânico, e uma aparência que flerta com o vale da estranheza*. M3GAN é o equivalente contemporâneo a Chucky.
*O “vale da estranheza” é uma hipótese estética e robótica que afirma que réplicas humanas muito semelhantes, mas não idênticas, a seres humanos reais podem causar repulsa em observadores. A expressão foi cunhada por Masahiro Mori, professor japonês de robótica, e se baseia na reação negativa de humanos à falta de verossimilhança de um robô.
O filme não se leva muito a sério, mas isso não significa que falte ao filme críticas interessantes à nossa sociedade. Embora a crítica seja à nossa relação com a tecnologia, podemos nos aprofundar um pouco mais.
No discurso de vendas da boneca M3GAN, a narração afirma que a boneca IA lida com todas as tediosas tarefas diárias dos pais, permitindo que eles se concentrem no que realmente importa (como trabalhar e progredir em sua carreira). Veja, o problema não é a tecnologia em si. A tecnologia é uma ferramenta e inerentemente não é boa nem má. O verdadeiro problema reside em nós, naqueles que a utilizam, e no nosso velho amigo – o egoísmo.
O que acho mais perturbador neste filme não é a boneca. É a perspectiva de que mesmo após o lançamento do filme, se introduzissem no mercado uma boneca como essa, muitos pais a comprariam e substituiriam sua presença na vida dos filhos pela boneca. Na verdade, já o fazem até certo ponto com a tecnologia disponível hoje.
As consequências desta tendência são bastante evidentes. Crianças estão sendo influenciadas por todos os tipos de tendências nas redes sociais, algumas das quais são dignas de filmes de terror. Uma rápida pesquisa no Google pelas tendências mais perigosas do TikTok ilustra meu ponto de vista. Embora estes sejam casos extremos, a influência é geralmente mais sutil e camuflada. O resultado final é que alguém, além de você, está ensinando a seus filhos todo tipo de coisas questionáveis dentro dos limites de sua própria casa.
Gemma, a tia da menina, não é uma pessoa má. Ela é uma engenheira robótica ambiciosa de trinta e poucos anos que, como muitos, caiu na armadilha de buscar a felicidade através da autossatisfação. No entanto, ela realmente se preocupa com sua sobrinha e, ao longo do filme, passa por uma transformação, mudando de uma mentalidade mais egocêntrica para uma perspectiva mais bíblica e auto sacrificial.
Cady se apegou à boneca porque sentiu que ninguém mais estava disposto a desempenhar o papel maternal em sua vida. Ela notou a distância emocional da tia e se sentiu uma intrusa na vida dela.
Mas, à medida que o filme se desenrola, Cady vê a mudança em Gemma. Sua tia gradualmente compreende a profundidade das feridas emocionais de Cady e começa a assumir um papel maternal, colocando tudo em risco para proteger Cady. E como nada pode realmente substituir o amor e o toque humano, a boneca perde o controle sobre Cady.
Resumindo, o filme nos lembra que o amor e a conexão humana são insubstituíveis. Qualquer tentativa de substituição dará errado, como em um filme de terror.