Malévola
A tendência de “humanização” dos vilões
Baseado no conto da Bela Adormecida, o filme conta a história de Malévola, a protetora do reino dos Moors. Desde pequena, esta garota com chifres e asas mantém a paz entre dois reinos diferentes, até se apaixonar pelo garoto Stefan. Os dois iniciam um romance, mas Stefan tem a ambição de se tornar líder do reino vizinho, e trai Malévola para conquistar seus planos. A garota torna-se uma mulher vingativa e amarga que decide amaldiçoar a filha recém-nascida de Stefan, Aurora. Aos poucos, no entanto, Malévola começa a se afeiçoar à jovem e pura Aurora.
Começando pela parte boa, Angelina Jolie ficou ótima no papel e a maquiagem ficou perfeita. Os efeitos especiais, principalmente da primeira batalha ficaram ótimos.
Mas, para a história funcionar, tudo o que costumava ser bom no desenho foi transformado em mal. TUDO. O Rei agora é mal. As fadas madrinhas são absolutamente incompetentes e irritantes. O Príncipe Philip foi completamente anulado na história (Deus nos livre de ter um homem salvando o dia no muderno século 21 não é mesmo? ¬¬).
E a vilã Malévola agora é “boa”. A propósito, por que uma criatura tão maravilhosa é batizada de Malévola? Por acaso alguém daria o nome de Derrota ou invés de Vitória pra sua filha? Não faz sentido.
Assim como em Cruella, muito da história do desenho teve que ser alterada ou atenuada para gerar empatia pela vilã. Por exemplo, a maldição original era simples: Aurora espetaria o dedo e morreria. Uma das fadas madrinhas atenuou a maldição para sono eterno e beijo do amor verdadeiro. Já no filme, a maldição de cara já é atenuada “sono como a morte” e é a própria Malévola que atenua a maldição com o beijo de amor verdadeiro.
No clímax do desenho, ela se transforma em um dragão para lutar contra o Príncipe Philip, o protagonista masculino, o maior arquétipo de herói dos desenhos da Disney. Filipe foi armado pelas boas fadas com uma “espada da verdade” e um “escudo da virtude” com a figura de uma cruz, armas que evocam a “armadura de Deus” em Efésios 6. Sua batalha épica opõe o cavaleiro cristão ao dragão diabólico, uma pura alegoria do bem contra o mal. Nada disso acontece no filme.
O que eu quero dizer com tudo isso? Malévola foi criada para ser vilã, e ainda é uma das vilãs mais memoráveis do cinema. Tudo nela nos remete a mais pura maldade. Ela foi planejada para ser diabólica. Autoproclamada “a senhora de todo o mal” e que invocava os “poderes do inferno”. E deveria ter continuado assim. Nem todo vilão tem um passado sofrido como justificativa. Alguns simplesmente preferem e escolhem o mal.
Se esse filme não tivesse sido associado à uma vilã tão icônica, se fosse um conto de fadas inteiramente novo, eu teria apreciado muito mais. O filme até traz uma mensagem interessante que se perde em todas essas comparações e alterações de um desenho tão amado e importante como A Bela Adormecida. (Aliás A Bela Adormecida foi a primeira fita VHS que ganhei de aniversário quando criança hehe)
Embora eu não aprecie muito esse tipo de revisão de histórias tão conhecidas e amadas, nem tudo está perdido. Ainda podemos extrair lições interessantes desse filme.
Quando conhecemos Malévola, ela é apenas uma pessoa boa que por acaso tem chifres e asas. E pais com gosto duvidoso para nomes. Mas tudo muda quando ela é traída e perde as asas. A maioria de nós sabe o que é ter algo tirado injustamente. Todos nós conhecemos a tentação de deixar que a mágoa crie raízes até se tornar amargura ou uma obsessão por vingança.
Malévola sofre muito na ausência de suas asas – uma dolorosa mutilação de seu verdadeiro eu. A perda a corrompe fisicamente, e sua alma também.
Mas por mais maligna que Malévola tenha se tornado, nem tudo está perdido. A bondade e a pureza de Aurora a alcança. O amor da menina que enxerga além das aparências a resgata da sua amargura.
Malévola não é a pessoa mais fácil de amar. Mas você aí também não é. Nem eu. É a bondade, a pureza e principalmente o amor incondicional de Jesus que nos resgata. E seu amor por nós nos torna pessoas melhores, mais amáveis e capazes de compartilhar amor com o próximo.