Percy Jackson
Deuses Gregos e Desejos Humanos.
Escrito por Paladino
Em “Percy Jackson e o Ladrão de Raios”, somos apresentados ao jovem herói Percy Jackson, em uma aventura para encontrar o poderoso artefato conhecido como Raio Mestre, roubado de Zeus, o deus do Monte Olimpo. Percy é filho de Poseidon, outro dos principais deuses do trio composto por Zeus e Hades.
Nessa história, que dá início à saga dos deuses gregos em uma série de livros, exploramos o mundo mitológico grego, que, em vez de desaparecer, se assimilou à era tecnológica atual. A narrativa habilmente entrelaça tecnologia e magia, apresentando-as como duas faces da mesma moeda.
No entanto, em vez de falarmos mais sobre a série, vamos pensar um pouco sobre o pano de fundo e a estrutura temática que ela apresenta. Vamos analisar como os deuses são retratados de forma semelhante a seres humanos com superpoderes, explorando as nuances de suas personalidades e conflitos.
Então, vamos lá.
Os Deuses Gregos
É difícil dizer quando e como os deuses gregos surgiram nas discussões filosóficas da Antiguidade, representando os diversos temas que os pensadores daquela época tentavam explicar ao seu público.
Embora os mitos em si não fizessem parte literal do desenvolvimento filosófico, eles certamente estavam presentes no imaginário das principais pessoas daquele tempo e ajudaram a ilustrar as histórias e ensinamentos de cada sábio.
Porém, no processo de criação do panteão grego, ocorreu o inverso da criação convencional – não foi o homem recebendo a história original, mas sim criando-a à sua maneira. Por isso, os deuses gregos pareciam mais com os seres humanos do que o contrário.
Cada deus possuía muitas semelhanças com os humanos, não apenas na aparência física, mas também em comportamentos, relações interpessoais e desejos pelos prazeres, quase insaciáveis.
Não é surpresa que o próprio Zeus, talvez o deus mais famoso, tinha fama de mulherengo, de apetite sexual incontrolável e amante de muitas deusas, ninfas e mulheres da Antiguidade.
No entanto, esse apego aos prazeres físicos vinha de outro conceito muito discutido na época, usado como exemplo da busca incessante do ser humano: a busca pela felicidade. E a felicidade, muitas vezes ligada ao prazer material ou corporal, estava personificada no conceito do hedonismo.
O que é o hedonismo?
O hedonismo é a ideia de buscar a felicidade através do prazer. Aristipo de Cirene foi o principal defensor dessa visão, dividindo o caminho da felicidade em duas partes: de um lado, o prazer; do outro, a dor. Segundo ele, quanto mais diminuímos a dor, mais aumentamos a felicidade, pois a dor expulsa o prazer de obter o que desejamos. Então, minimizar a dor permitiria que o prazer pelo objeto desejado crescesse, possibilitando que a pessoa experimentasse um vislumbre da tão sonhada felicidade.
Nessa visão, os mais ricos seriam como reflexos pessoais dos deuses, vistos como exemplos máximos de seus domínios. Zeus, o rei dos deuses e detentor do poder; Ares, da guerra violenta e coragem; Afrodite, do amor, luxúria e prazeres carnais; etc.. Cada um personificava anseios, virtudes e, principalmente, vícios da natureza humana.
Assim, os antigos deuses gregos (romanos, sumérios, egípcios…) eram retratados como criaturas muito parecidas com os seres humanos em sua busca máxima de satisfação pessoal, com atributos como esplendor, poder, beleza e apreciação dos prazeres luxuriosos.
Tornando os deuses nada mais do que humanos poderosos, com acesso a todo tipo de prazer que pudessem desfrutar, desde bens materiais até atos luxuriosos e carnais que a mente humana pudesse conceber.
E se você está se perguntando: “Tudo bem, mas e o Deus cristão, ele não é também uma invenção humana?”
Bem, para começar, é importante dizer que por meio da criação, Deus também manifesta seus atributos. Esses atributos divinos estão divididos em: comunicáveis e incomunicáveis.
Os atributos incomunicáveis são aqueles que pertencem somente a Ele – onisciência, onipresença, imutabilidade e eternidade.
Os comunicáveis, são compartilhados conosco e refletem o caráter de Deus, que podemos experimentar e vivenciar – amor, bondade, misericórdia, graça, paciência, sabedoria e justiça.
Dessa forma, quando exercemos esses atributos, estamos refletindo características que Deus nos permitiu ter ao nos aproximarmos de Sua presença. E nenhum desses aspectos reflete a obtenção de felicidade como um fim em si mesmo ou o prazer como meio de obtê-la.
Os valores hedonistas estão ligados à natureza mais imanente do ser humano, enquanto os atributos comunicáveis de Deus, por mais próximos que sejam da nossa natureza, ainda se revelam transcendentes à nossa vontade.
Quando Jesus nasce, ele é a representação física do Deus transcendente em um reflexo imanente (mundano) do ser humano. Porém, sua presença na Terra vai contra todo esforço do homem em tornar os deuses como seres humanos muito poderosos, como é o caso dos mitos gregos.
Isso acontece porque os valores de Deus são muito superiores ao que o ser humano almeja. Mesmo a felicidade, que é um conceito amplamente discutido, como vimos, pode ser distorcida quando o caminho para alcançá-la vem por meio de uma visão mais materialista. Enquanto a felicidade plena, parafraseada pelo escritor C.S. Lewis, está na participação do “banquete universal” oferecido pelo Altíssimo.
No final das contas, os deuses em suas formas antropocêntricas fazem o que já adverte o Salmo 115:4-8: “Os ídolos dos homens são prata e ouro, obra das mãos humanas. Têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não vêem; têm ouvidos, mas não ouvem; nariz têm, mas não cheiram. Têm mãos, mas não apalpam, têm pés, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta. Portanto tornem-se semelhantes a eles aqueles que os adoram.”