Prey
Qual é o seu valor?
Prey é um prequel ambientado 300 anos antes do Predator original protagonizado por Schwarzenegger (1987). Esse novo filme da franquia é um thriller de terror/ação de ficção científica violento e mais bem elaborado do que seus antecessores, mas não supera o original.
Falando do elenco, Amber Midthunder estrela como Naru, uma jovem que é constantemente ignorada por sua tribo e impulsionada pelo desejo de provar a si mesma. Ela não começa o filme totalmente zerada, mas é inexperiente e vulnerável. Naru luta, falha e aprende com seus erros. Em várias ocasiões, seus erros e falhas do início do filme são usados posteriormente, fazendo com que o crescimento de sua personagem pareça merecido, em vez de artificial.
Prey também opta por um ritmo de tensão crescente em vez de um espetáculo barulhento, cheio de piadas e efeitos visuais. Não vemos o Predator de fato até 35-40 minutos de filme. O ritmo mais lento dá espaço para os personagens humanos crescerem e leva a uma recompensa melhor quando o confronto inevitável com o Predador começa.
Mas rolou uma preguiça do roteirista no terceiro ato. Devia estar cansado já hehe. O confronto final poderia ter sido mais bem elaborado, o roteiro deu uma vacilada ali. O predador ficou meio burro e mais fraco. Quando ele batia nela não tinha nem de longe as mesmas consequências do que em personagens anteriores. Pra fazer mais sentido, ela devia ter usado mais a inteligência e menos contato físico, e o contato que ocorresse deveria ter deixado Naru bem mais machucada.
A luta final também foi corrida e escura e eu demorava pra entender o que estava acontecendo. Tipo “o que ela cortou?”, meia hora depois… “foi o braço? ele tá sem braço?”
Outra coisa que eu acho que o terceiro ato pisou na bola foi no desenvolvimento da personagem. No início a motivação dela é provar pra todo mundo que é uma caçadora. Uma motivação meio infantil. Aí no meio do filme a mãe dela diz que o rito de passagem não é sobre a caça ou o reconhecimento, é sobre sobrevivência. Uma visão mais madura da coisa. Só que no fim do filme Naru apenas volta pra tribo e é reconhecida como caçadora. Ponto. Muito simplista.
Na minha versão ela não teria trazido o “prêmio” pra tribo, mas sim depositado nos pés da mãe, como um reconhecimento de que ela estava certa e de que seu filho tinha sido vingado. Ela voltaria com uma visão mais madura e realista da vida, com uma ponta de culpa por ter envolvido o irmão e não precisando mais de aceitação externa.
Falando em motivação da personagem…
…vemos como Naru busca aprovação. No início da trama, ela é desacreditada como caçadora pela sua tribo. Parte disso se deve às expectativas relacionadas aos papéis sociais, e parte porque ela nunca provou suas capacidades como caçadora.
Embora a gente deva se esforçar pela excelência em todas as coisas, nosso valor não depende de reconhecimento público.
Existem 3 caminhos para a identidade:
1) há aqueles que olham para fora de si. São pessoas que se voltam para o seu dever e papel na comunidade a fim de encontrar o seu eu. Esse caminho é o que a Naru estava trilhando;
2) há aquelas que olham para dentro de si. Não acreditam em uma ordem cósmica ou Deus e tentam extrair sua identidade de seus próprios desejos e vontades. Esse é o caminho que a nossa cultura ocidental tem optado por trilhar;
3) mas existe a terceira opção – há outra parcela de pessoas que não olham nem para fora nem para dentro, mas para cima. Se fomos criados por um Deus pessoal e recebemos uma missão e um chamado pessoais, então nem a comunidade tem prioridade sobre o indivíduo, nem o indivíduo tem prioridade sobre a comunidade. O que de fato importa não é o que a sociedade diz a meu respeito, nem o que eu penso de mim, mas o que Deus diz e pensa.
O evangelho cristão nos oferece a garantia mais invencível e segura do nosso próprio valor. No entanto, também requer o serviço humilde e a perda de nossa independência. Assim, cria uma cultura que nem infla nem esmaga o nosso ego. Nem a sociedade nem meus próprios sentimentos me controlam e me dizem quem eu sou. Quem me julga é o Senhor. E ele é o Justo Juiz.
Então, na verdade, nem o final do filme nem o final que eu propus realmente trarão satisfação e paz para Naru, pois nenhum dos dois leva Deus em consideração. O que fica é um exercício de imaginação e um exemplo para nós de quais caminhos não devemos trilhar.
Inté!