Senhor dos Anéis – A queda de Númenor
Existem semelhanças óbvias entre a história da queda de Númenor e nossa lenda da Atlântida. Tolkien a projetou dessa maneira. No entanto, existe um paralelo ainda mais forte entre este episódio e outra história: o relato bíblico do Dilúvio.
É quase impossível ler sobre Elendil, Isildur e Anárion juntando suas esposas e filhos nos três navios altos em Rómenna sem lembrar de Noé e da arca. Neste e em vários detalhes menores, as duas narrativas têm uma semelhança impressionante. Mas talvez a conexão mais importante esteja em sua ênfase no tema: fidelidade.
Nos séculos que se seguiram às viagens de Aldarion, os homens de Númenor tornaram-se tão poderosos e tiveram tanto sucesso em conter a agressão de Mordor que Ar-Pharazôn, seu vigésimo quinto rei, decidiu que poderia comandar o próprio Lorde das Trevas. Em seu orgulho, ele chegou a convocar o inimigo a Númenor como refém. Sauron obedeceu de bom grado.
Uma vez na capital de Armenelos, o enganador rapidamente ganhou o favor do rei e se tornou o principal conselheiro real e governante de fato. Por meio de suas maquinações, engano e descontentamento foram semeados por toda a terra. O resultado foi uma divisão amarga entre o povo.
O grupo maior se autodenominava “os homens do rei”. Sob a influência de Sauron, eles abandonaram a devoção a Ilúvatar e adoravam Morgoth, a quem chamaram de “Doador da Liberdade”. Sauron os convenceu de que os Valar estavam com ciúmes de sua força e ansiosos para impedi-los de alcançar o prêmio da vida eterna. Acreditando nessa mentira, Ar-Pharazón planejou um ataque contra os Valar – os Senhores do Oeste.
Do outro lado da fenda estavam “os Fiéis”: aqueles que permaneceram leais a Ilúvatar e aos Senhores do Oeste. Seu líder era Amandil, senhor de Andúnië.
À medida que a situação se deteriorava, Amandil se viu em uma situação difícil. Como membro do conselho real, ele jurou servir Ar-Pharazôn, o rei. Mas ele sabia onde sua verdadeira lealdade deveria estar. Assim como Noé, Amandil entendia que, quando a pressão chegasse, ele tinha que permanecer fiel à Autoridade acima de todas as autoridades.
E assim, como Noé, quando o rei e o povo da terra foram correndo atrás de demônios e falsos ídolos, ele lançou sua sorte com os Fiéis e levou seu caso ao mais alto tribunal – aos próprios Valar. Ao fazê-lo, ele garantiu a preservação de sua família e do legado da Terra da Estrela, pois seus filhos e suas famílias, junto a outros fiéis conseguiram fugir da destruição de Númenor e de seu rei Ar-Pharazón pelos Valar.
Não foi a arca que protegeu Noé, nem os navios de Rómenna que libertaram Elendil e seus filhos da queda de Númenor. Em ambos os casos, foi a fidelidade do patriarca da família que salvou o dia. Há apenas um caminho para a salvação e a vida eterna: o caminho da fidelidade ao Único e Verdadeiro Deus. Noé, Elendil e seus descendentes foram poupados, mas todos os outros pereceram. É disso que tratam essas duas histórias.
O que exatamente é fidelidade? Poucos hoje em dia parecem compreender o peso da palavra. Algumas fontes sugerem que a derivação latina original do termo denota o vínculo entre escravo e senhor. Historicamente, evoca a imagem de um cavaleiro vassalo, ajoelhado, jurando fidelidade ao seu suserano. Denota submissão completa e lealdade inabalável. É exclusiva, abrangente e absoluta.
Para os verdadeiros seguidores de Jesus, dever lealdade absoluta a um homem, uma mulher, um partido, um país ou um credo político não é uma opção. Por quê? Porque sua lealdade é devida a um Mestre e apenas um. Portanto, sua atitude em relação a qualquer outra suposta autoridade é parcial.
Não entenda mal. Por amor, os crentes podem tolerar, cooperar e, sempre que possível, submeter-se aos governos locais desde que esses não os peçam para violar suas consciências ou transgredir os mandamentos de Deus.
O apóstolo Pedro tinha razão quando, diante da Suprema Corte de seus dias, declarou: “É necessário obedecer antes a Deus do que aos homens” (Atos 5.29).
Fazer o contrário, como Amandil percebeu, é cortejar o desastre. Jure fidelidade somente a Deus. Ele cuidará do resto.
Adaptado do livro “Finding God in The Lord of the Rings” de Kurt Bruner e Jim Ware