Shang-Chi
Onde está o seu coração?
Shaun, é um cara sem ambições que vive em San Francisco estacionando carros e cantando em karaokês com sua amiga Katy. Só que seu nome verdadeiro é Shang-Chi e ele na verdade foi treinado para ser um assassino por seu pai “imortal”, um homem poderoso por trás de uma organização secreta, que reapareceu na vida de Shaun com um plano mirabolante e implacável: conquistar uma vila mágica escondida nas profundezas de uma floresta chinesa.
Shang-Chi abre ainda mais o leque de possibilidades e mitologias dentro do MCU. Um reino de fantasia cheio de raposas com várias caudas, animais de estimação alados sem rosto e dragões. (E um leão mitológico chinês maravilhoso que eu já quero adotar.)
É o primeiro filme de super-heróis com uma história voltada para a cultura asiática e que tem sua ação baseada em artes marciais. Algumas cenas me lembraram de Bruce Lee e Jackie Chan.
O roteiro, em alguns momentos, era bem conveniente. Como a fuga do trio do complexo e a presença de um animal mitológico que sabia exatamente como entrar na vila. Fora aquela flecha certeira da Katy. Mas nada disso me incomodou ao ponto de atrapalhar a experiência como foi no caso de Viúva Negra. Foi um filme com algumas falhas, mas divertido.
Eu só acho que podiam melhorar o traje de herói do Shang-Chi. Sair para salvar o mundo calçando sapatênis é de lascar haha
O filme não se limita a sequências de luta, movimentos de artes marciais que desafiam a gravidade e efeitos visuais. O enredo de Shang-Chi foca em um trágico drama familiar e nesse texto, vamos focar em um dos membros dessa família, o pai de Shang-Chi – Xu Wenwu.
Xu Wenwu é um antagonista trágico. Ele é um homem quebrado e um exemplo de como nossos pecados passados podem nos perseguir e destruir, se nos permitirmos ouvir as vozes erradas.
Sua história faz um contraste interessante com a jornada de seu filho. A jornada de Shang-Chi não consiste apenas em escolher um lado de sua herança (mãe versus pai), mas sim em superar os pecados de seu próprio passado e não permitir que eles determinem seu futuro da forma como aconteceu com o seu pai. Embora o filme ofereça uma solução mais pós-moderna para o problema (olhe para dentro e encontre sua verdadeira identidade dentro de você), também encontramos temas cristãos como pecado, arrependimento e a necessidade de redenção.
Voltando a Xu Wenwu, ele abdicou do poder dos anéis por Jiang Li, sua esposa. Todas as mudanças positivas dele se apoiavam exclusivamente nela. Mas colocar toda a nossa fé, todo nosso apoio espiritual e psicológico em outra pessoa é algo muito instável e temerário, por melhor que a pessoa seja.
Uma coisa é tomar alguém como inspiração para nossas atitudes. Outra bem diferente é confiar todo o nosso ser a uma pessoa que é tão efêmera quanto a gente. Soa perigosamente como idolatria, colocar alguém no lugar exclusivo de Deus.
É o que aconteceu com Xu Wenwu, ele depositou em sua esposa toda a sua vida e esperança. A sua mudança para um homem mais justo dependia exclusivamente da presença e influência direta de sua esposa. Nem seus filhos foram capazes de mantê-lo no caminho do bem. Então, assim que ela se foi, ele reverteu ao homem que era no passado: violento e implacável.
Aqui está a diferença do Evangelho. Depositamos todo o nosso ser, todas as nossas esperanças e fé naquele em que não há sombra de mudança, que não falha e que nunca vai nos deixar. Nem a morte foi capaz de nos separar de seu amor. Se Xu Wenwu tivesse confiado sua vida a Jesus, bem… a história do filme nem teria se desenrolado.
Continuando a nossa conversa sobre esse personagem, uma outra questão que o filme mostra claramente é a consequência de nossos pecados. Antes de aposentar os anéis, Xu Wenwu foi um homem implacável na busca do poder, matava e tomava para si o que bem entendia, sem nenhuma culpa.
Quando decidiu tornar-se um homem melhor e um pai de família, as consequências de seus pecados vieram bater à sua porta e acabaram por levar a sua esposa. De fato, é assim que acontece: mesmo que busquemos o arrependimento de nossos pecados e mudemos o rumo de nossas vidas, ainda teremos que lidar com as consequências de nossos pecados passados. Um pai, por exemplo, que foi ausente durante décadas e finalmente se arrepende, tem que lidar com as consequências de suas atitudes, no caso, todo o tempo que perdeu com seus filhos e seus relacionamentos quebrados.
Xu Wenwu lidou com as consequências dos seus pecados da pior forma possível, ele terceirizou a culpa. Foi incapaz de absorver a sua própria parcela de responsabilidade pela morte de sua esposa. Então, voltou a ser um homem violento e implacável, inclusive com os filhos, e tornou-se suscetível ao engano do mal, o Dweller-in-Darkness, um demônio de outra dimensão que se alimenta de almas e foi responsável pela queda original de Ta Lo e o massacre de seu povo.
O pecado é devastador. Graças a Deus ele foi derrotado na cruz e perdeu o seu domínio sobre nós! Seus dias estão contados e em breve, seremos curados permanentemente do pecado e de suas consequências nefastas.