Wish
Somos nossos desejos?
A trama gira em torno de Asha, uma jovem de 17 anos que vive no reino de Rosas. Lá, quando as pessoas completam 18 anos, elas entregam seus desejos ao Rei Magnífico, que tem o poder de realizá-los. Asha, que foi escolhida como aprendiz do rei, descobre que ele rejeita a maioria dos desejos porque os vê como ameaças ao seu reinado. E o pior: quando alguém entrega seu desejo, esquece dele. Chocada, Asha decide pedir ajuda às estrelas e faz seu próprio desejo para salvar o reino. É então que uma estrela desce do céu para ajudá-la a recuperar os desejos perdidos do povo. Com a ajuda de amigos, Asha enfrenta o rei.
No papel, a ideia parece bem interessante. Afinal, o que acontece quando uma pessoa controla os sonhos de todos? Conceder cada desejo pode ser perigoso? Essas perguntas já foram exploradas em filmes como Todo Poderoso e Mulher-Maravilha 1984. Mas, infelizmente, “Wish” não chega nem perto de aprofundar essas questões.
Asha: mais uma heroína “fofa e desajeitada”
Asha não consegue se destacar no meio de tantas outras heroínas da Disney. Ela segue o mesmo modelo de quase todas as protagonistas da última década: uma adolescente “engraçadinha, desajeitada e nervosa”. Rapunzel, Anna, Moana, Mirabel… todas seguem esse padrão, e Asha não traz nada de novo.
O problema é que ela já começa a história “perfeita”: sem defeitos para superar, sem um crescimento real e sem uma jornada de heroína. Isso faz com que ela pareça uma personagem “vazia”, daquelas que o filme diz que você deve torcer por ela, mas não te dá um motivo convincente para fazer isso. E como ela é apresentada como alguém totalmente virtuosa, o filme evita mostrar qualquer consequência para suas ações — uma coisa que os clássicos da Disney não tinham medo de abordar.
O vilão: uma chance desperdiçada
O Rei Magnífico, o grande vilão da história, é tão genérico quanto possível. Suas motivações se resumem a “eu quero mais poder”, o que o faz parecer um vilão sem profundidade. Quando a gente lembra de antagonistas incríveis da Disney — como o juiz Frollo com sua hipocrisia moral, Gothel com seu narcisismo manipulador ou Scar com sua ambição cruel — o Rei Magnífico parece totalmente esquecível.
O filme tinha uma ótima oportunidade de explorar mais sobre ele. Afinal, ele tem um ponto: realizar todos os desejos pode ser perigoso. E se isso trouxer caos? E se os desejos tiverem consequências ruins? Essas perguntas poderiam ter deixado o personagem mais interessante e criado um dilema moral para Asha enfrentar. Mas, em vez disso, o filme o trata como um vilão unidimensional, desperdiçando o potencial da história.

Poeira estelar e o vazio do materialismo
Wish tenta trazer um significado para o ato de desejar às estrelas, usando uma explicação ‘científica’: somos feitos de poeira estelar. Na música “I’m a Star”, o filme conecta os seres humanos ao cosmos com versos como:
“Veja, todos nós éramos apenas pequenas nebulosas em um berçário de supernovas
Agora crescemos em nossa história
Estamos tirando os ‘porquês’ do mistério.”
A ideia é que, como também somos poeira estelar, temos o poder mágico da poeira estelar. Assim, desejar às estrelas é uma forma de nos empoderar. Em essência, Wish apresenta uma visão um tanto naturalista e ateísta.
As pessoas desejam às estrelas ou pedem ajuda a um poder superior porque sabem que há coisas na vida que estão fora do nosso controle, e que precisam de ajuda externa que transcenda este mundo. Contos de fadas, tradicionalmente enraizados em alegorias cristãs, apresentam esperança por meio de um arcabouço transcendente, onde o bem triunfa sobre o mal com apoio divino. Já, Wish apoia-se apenas no esforço humano e no materialismo, eliminando os elementos divinos que tornam os contos de fadas ressonantes com verdades mais profundas.
Você não é seus desejos
Outro ponto que incomoda no filme é como ele trata os desejos. Em Wish, os desejos são “o que faz você ser quem é” e “a parte mais bonita” de uma pessoa. No filme, os desejos são coisas que as pessoas querem para a vida, como encontrar o amor verdadeiro, voar ou se tornar um cavaleiro. E, se alguém perde seu desejo, perde também sua essência.
Mas será que isso é saudável para as crianças que vão assistir ao filme? Dizer que “a parte mais bonita” de alguém é o que ela deseja pode fazer as crianças acreditarem que, se não conseguirem realizar seus sonhos, elas mesmas não têm valor. Ou pior: que qualquer pessoa ou situação que impeça esses sonhos — seja um pai, Deus ou a sociedade — está, de alguma forma, atacando sua identidade.
Abrir mão de desejos é algo que Jesus nos chamou a fazer. Ele nos chamou a negar a nós mesmos e tomar nossa cruz (Lucas 9:23), ensinando que o auto sacrifício é mais importante que a autorrealização. Isso não significa que desejos e sonhos não sejam coisas pelas quais vale a pena lutar. Mas que, nós cristãos, acreditamos em um Rei que decide quais sonhos são certos e quais são errados. Somos chamados a entregar nossos desejos a Deus e confiar que Ele concederá os certos. Por outro lado, Wish glorifica o desejo individual sem questionar sua moralidade ou consequências, deixando sua mensagem rasa e autocentrada.
Para um cristão, “a parte mais bonita” de você não é algo que pode ser tirado. A parte mais bonita é que você foi “feito de modo assombrosamente maravilhoso” (Salmos 139:14) por Deus e é tão precioso que Ele esteve disposto a morrer por você.
O meu desejo que que você jamais se esqueça disso.