Adão Negro
O que define um herói?
Essa história começa em 2600 AC no Oriente Médio, na mítica terra de Kandaq. O rei Akenaton, um governante sedento de poder, força seus escravos a coletar a rara pedra preciosa eternium para que ele possa moldar uma coroa que convocará seis lordes demônios à Terra. O conselho de magos (apresentado em “Shazam!” de 2019) concede os poderes de Shazam a um jovem escravo para acabar com o governo do rei louco. Diz a lenda que ele retornará quando Kandaq precisar desesperadamente de um herói.
Agora Kandaq é governada por uma gangue de mercenários que oprimem o povo da mesma forma que reis do passado. Adrianna (Sarah Shahi) e seus ancestrais foram encarregados de garantir que a coroa de eternium nunca fosse descoberta, então ela e seu irmão viajam para uma caverna escondida no deserto para recuperá-la. Mas ela é cercada pelos mercenários. Então ela olha para baixo, lê a antiga inscrição esculpida no chão, e Teth-Adam/Adão Negro (Dwayne Johnson) acorda de seu longo sono.
Adão Negro é tão impiedoso quanto imparável, despachando os mercenários sem hesitação, eletrocutando um em suas mãos e fritando muitos outros. Os mercenários não têm chance contra ele. Felizmente, ele reconhece a mulher que o libertou e relutantemente se torna a protetora dela e de seu filho (como se eles fossem ecos daquilo que ele falhou em proteger no passado).
Adão Negro fica surpreso com o quanto as coisas mudaram em 5.000 anos, mas seu devaneio é interrompido pela Sociedade da Justiça. Eles, como os magos que primeiro “concederam” seus poderes, estão cientes de que Teth-Adam não é uma boa pessoa. Então eles voam para Kandaq na esperança de detê-lo antes que crie problemas.
A questão central de Adão Negro (personagem que foi o principal vilão de Shazam nos quadrinhos da DC há décadas) é direta: o que exatamente define um herói?
Para Amon, filho adolescente de Adrianna, a resposta é simples: poder e afinidade cultural. Isso também é verdade para grande parte de Kandaq, um povo que quase adora Teth-Adam como um salvador, apesar de seus excessos.
“O mundo nem sempre precisa de um cavaleiro branco”, alguém nos diz. “Às vezes, precisa de algo mais sombrio.”
Será? Parece o argumento de Boromir em A Sociedade do Anel – um argumento para usar o Um Anel de Sauron em vez de destruí-lo.
“É a escuridão [de Adão Negro] que permite que ele faça o que heróis como você não podem fazer”, diz Adrianna. Mas será que esse é o caminho? Certamente não foi o caminho que Cristo escolheu.
“Quem luta contra monstros deve cuidar para que no processo ele não se torne um monstro.
E se você olhar o suficiente para um abismo, o abismo olhará de volta para você.”
Black Adam neste filme é a antítese do Superman. Superman contém sua força ao mínimo necessário. Ele valoriza a vida e a justiça até o ponto de auto sacrifício. Adão Negro não. Nós meio que torcemos por ele no filme porque ele estava lutando contra um grupo de homens maus, mas ele não se sujeita a nenhuma lei moral. Faz o que quer. E se da próxima vez ele decidir lutar contra alguém inocente por qualquer motivo que ele escolher? Sua maneira de pensar é muito perigosa.
O filme tecnicamente condena os excessos de Teth-Adam enquanto encoraja o público a, pelo menos em parte, passar pano pra eles (e talvez até aplaudir). “Eu não sou um herói”, Teth-Adam nos diz. E embora eu concorde plenamente, o filme em si não parece tão certo disso.